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Reinaldo Azevedo

Procuradora pede desculpas a Lula; depois, fala bobagem; os outros se calam

Reinaldo Azevedo

28/08/2019 08h02

Jerusa Viecili (alto, à esq.) pediu desculpas, ainda que estranhas. Paludo (alto à dir.), o "pai", dos "Filhos da Januário", manteve silêncio depois da divulgação das indignidades. E o mesmo fez a plêiade de patriotas acima: Laura Tessler, Monique Cheker, Roberson Pozzobon e Deltan Dallagnol

A procuradora Jerusa Viecili, da Lava Jato, recorreu ao Twitter para pedir desculpas pelas coisas indignas que escreveu sobre a morte de familiares do ex-presidente Lula em troca de mensagens com seus colegas, conforme revelou reportagem da parceria UOL/The Intercept Brasil.

Escreveu às 21h09 desta terça:
"Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula."

É evidente que, ao fazê-lo, está admitindo a veracidade dos diálogos, coisas que seus colegas, até agora, se negaram a fazer. Imagino que tenha sido pressionada. Às 22h21, ela voltou:
"Lembrar de uma mensagem não autentica todo o conjunto. A existência de mensagens verdadeiras não afasta o fato de que as mensagens são fruto de crime e têm sido descontextualizadas ou deturpadas para fazer falsas acusações."

A sombra de alguma dignidade na primeira mensagem se desfaz com a segunda.

Temos o direito de perguntar que tipo de gente admite como verdadeiras mensagens que debocham da morte de dois idosos e de uma criança, mas que nega a autenticidade de outras, que maculam o devido processo legal.

Às 22h22, ela escreveu de novo:
"Os procuradores da Lava Jato nunca negaram que há mensagens verdadeiras, exatamente porque foram efetivamente hackeados. Contudo, não é possível saber exatamente o quanto está correto, porque é impossível recordar de detalhes de 1 milhão de mensagens em 5 anos intensos."

Não podemos saber que vicissitudes pessoais, familiares talvez, levaram Jerusa a se desculpar. O fato é que, em seguida, passou a fazer o discurso da corporação a que pertence.

Cada um fale por si. Eu me pergunto quem quer a convivência de pessoas que ficam a um passo de celebrar a morte e que evidenciam uma impiedade própria de justiceiros.

Lembro.

Quando Marisa morreu, Jerusa escreveu a seus pares:
"Querem que eu fique para o enterro?". E publicou a imagem de um sorriso irônico.

Ao saber da morte do neto de Lula, de apenas sete anos, disparou:
"Preparem-se para nova novela ida ao velório"

Um colega seu, Athayde Ribeiro Costa, não se deixou tocar pela morte de uma criança. Ele preferiu lamentar a inoportunidade da data do cadáver infantil:
"Putz… No meio do Carnaval"

Parece que essa gente é contra a morte de crianças em datas impróprias.

Ainda sobre a morte do neto de Lula, Deltan publica link de reportagens informando que o ministro Gilmar Mendes ligou ao ex-presidente e que ambos choraram ao telefone ao falar sobre a tragédia. Incapazes de empatia, os procuradores procuraram motivações subalternas para justificar a conversa.

Roberson Pozzobon, o Robito, aquele que queria criar uma empresa de palestras com Dallagnol, afirma sobre o ministro:
"Estratégia para se humanizar, como se isso fosse possível no caso dele, rssss"

Que coisa fabulosa! Um procurador que não dá a mínima para a morte de uma criança ao escrever a respeito; que, ao tratar do assunto, acrescenta um "rssss", duvida da humanidade do outro. Dallagnol responde com uma teoria conspiratória. Ele especula:
"Não. Estratégia para ampliar base na esquerda, que é sua aliada desde a questão da execução provisória. Ele pensa no Senado"

Convenham… Gente assim não tem como acreditar num gesto de solidariedade.

E volta, então, a Jerusa do pedido de desculpas que acabou indo para o ralo:
"Gilmar Mendes não dá ponto sem nó".

NÃO PEDIRAM
Ainda que tenha sido, infiro, pressionada por seus pares a desdizer o que dissera, Jerusa Viecili, é fato, não deve ter se sentido confortável diante das indignidades que escreveu. Afinal, convenham, depois disso, essas pessoas têm de escolher amigos que acham normais coisas assim. E serão escolhidas por gente da mesma estirpe. Vão atrair para o seu círculo de convivência pessoas que abrigam e alimentam essa pequenez de espírito.

Ela ainda tenta sair da lama moral.

Os outros não se manifestaram.

SILÊNCIOS
Januário Paludo, que chamou a morte de Marisa Letícia de "queima de arquivo", que duvidou da existência do aneurisma, que afirmou que "o safado [Lula] só queria passear" ao pedir para ir ao enterro de Genival Inácio da Silva, seu irmão… Bem, Paludo não se desculpou.

Não por acaso, o grupo em que conversam se chama "Filhos de Januário". Ele é mais velho do que os outros. E seus pares são, com efeito, a cara moral do pai.

Laura Tessler — aquela que Sergio Moro considerou tecnicamente despreparada e que foi substituída por decisão de Dallagnol nas audiências que diziam respeito a Lula — também se calou. Nada de desculpas. É a gigante moral que, ao saber da irreversibilidade da situação de Marisa, afirmou com peculiar senso de humanidade:
"Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização"

Também partiu de Laura especulações sobre a fidelidade de Lula à mulher e a constatação de que, a toda hora, morre gente de aneurisma. Também é de sua lavra a constatação de que ninguém mais daria bola para o fato de que Lula teve seu direito violado ao ter sido proibido de ir ao enterro do irmão porque "o foco tá em Brumadinho… Logo passa… Muito mimimi".

Entenderam? As centenas de vítimas de Brumadinho, na cabeça da procuradora, tinham a utilidade desviar o foco de uma agressão à lei. E a morte de um irmão é "mimimi".

Monique Cheker também não se comoveu ao ver Lula no enterro do neto. E igualmente não se desculpou:
"Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta, vão vendo…"

PARA ENCERRAR
Esses procuradores podem estar certos de que também estão fazendo história. E suas palavras não serão esquecidas. Não vão morrer. São protagonistas de um modo de se operar o direito, a persecução penal e, por óbvio, a política. Afinal, como confessou o decano da turma, Carlos Fernando, a Lava Jato, no fim das contas, tinha, sim, um candidato. E seu nome era Jair Bolsonaro.

O Brasil que está aí é o Brasil da Lava Jato.

Ou alguém dirá que o presidente da República é menos sensível do que essa plêiade de humanistas que dizem combater com tanto afinco a corrupção?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.