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Reinaldo Azevedo

O Estado policial de Moro está perdendo mais uma para o de Bolsonaro

Reinaldo Azevedo

05/09/2019 07h15

Tchau, querido! Moro já não tem nem mais o que dizer. Virou a assombração mais popular do governo

Sergio Moro, o ministro mais popular que o presidente, não tem o que fazer com os seus 25 pontos de vantagem de "ótimo e bom" quando comparados ao desempenho do chefe (54% a 29%). Na verdade, essa dianteira é matéria adicional para conflito.

Aquele que se pretendia o garantidor do governo virou uma assombração do passado. Se, antes, vendia a si mesmo como o xerifão, não consegue hoje nem mesmo manter no comando da Polícia Federal o nome que escolheu: o delegado Maurício Valeixo. A questão não é se o delegado vai cair, mas quando.

Moro, hoje, está lutando é para ver se consegue fazer o sucessor de Valeixo. Também isso não é certo. Bolsonaro já deixou claro: quem decide é o presidente, não o ministro.

No café da manhã com a Folha, o presidente classificou de "babaquice" a reação de superintendentes do órgão às interferências do governo. E afirmou que a PF precisa dar uma arejada.

Moro, como vimos, convocou a imprensa para anunciar uma etapa nova do programa de combate à pedofilia, falou menos de três minutos e deu no pé. Sem conceder entrevista. É provável que não tivesse o que dizer.

Quando, sem temer o absurdo, aceitou o cargo de ministro — é evidente que foi um despropósito —, estufou o peito e sugeriu que a Lava Jato estava migrando para a Esplanada dos Ministérios. Em certos setores da imprensa, tinha-se a impressão de que era ele que tinha sido eleito presidente.

Não tardou para Bolsonaro perceber, na expressão de um fiel aliado seu, que estava com dois problemas: "o Mourão e o Morinho".

Duas concepções de Estado policial entraram em conflito: a do presidente e a do seu ministro.

Logo o chefe de Moro percebeu que ele próprio estava se tornando refém de quem havia nomeado.

Bolsonaro certamente tem os seus próprios medos, não é mesmo? Tem seus motivos para não querer ficar exposto a uma Receita de Moro, a um Coaf de Moro, a uma PF de Moro, a uma PGR de Moro…

Aos que ainda não renunciaram aos fundamentos da democracia, cumpre fazer a escolha certa: temos de ter uma Receita do Estado, um Coaf (agora UIF) do Estado, uma PF do Estado, uma PGR do Estado.

Moro nada mais é do que um Bolsonaro com 25 pontos a mais de ótimo e bom. Parte considerável da população ainda não ligou o homem à sua obra. Aliás, o próprio Bolsonaro, com efeito, é parte da herança morista.

Só para registro: se Moro deixar o governo, o Estado de direito perde apenas um de seus adversários.

Há muitos outros, claro!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.