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Reinaldo Azevedo

Cadê o pobre na equação? Bolsa Família volta a ter fila e pode encolher

Reinaldo Azevedo

01/10/2019 07h51

Leiam o que informa a Folha. Volto em seguida:
Após quase dois anos, o Bolsa Família voltou a ter fila de espera para quem deseja entrar no programa social que transfere renda para pessoas em situação de pobreza e de extrema pobreza.

A informação foi dada pelo ministro Osmar Terra (Cidadania) a integrantes da CMO (Comissão Mista de Orçamento) do Congresso durante reunião ocorrida há alguns dias.

"Conseguimos terminar com a fila. Agora está voltando a fila de novo em função da nossa dificuldade orçamentária", disse o ministro.

Criado em 2004, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Bolsa Família é o carro-chefe dos programas sociais do governo e atende a pessoas extremamente vulneráveis. A fila de espera se forma quando as respostas demoram mais de 45 dias.

O prazo vinha sendo cumprido desde agosto de 2017, quando Terra era ministro do Desenvolvimento Social (antiga pasta da Cidadania) de Michel Temer (MDB). Mas, por falta de recursos, o programa regrediu no governo de Jair Bolsonaro (PSL).

O Bolsa Família está funcionando no limite do orçamento para este ano. Até agosto foram gastos R$ 20,9 bilhões —uma média de R$ 2,6 bilhões por mês. Com esse ritmo, o dinheiro reservado —R$ 29,5 bilhões— pode não ser suficiente até o fim do ano.

Além disso, motivada pelo aperto nas contas públicas, a equipe econômica congelou cerca de R$ 1 bilhão, de um total de quase R$ 5 bilhões, para as atividades da pasta responsável pelo programa.

Procurado, o Ministério da Cidadania não respondeu os questionamentos feitos pela Folha, como o número de pessoas que aguardam resposta e soluções para esse problema. A pasta só ressaltou que, antes de 2017, também havia filas. À época, a lista chegou a ter um milhão de pessoas.

A folha de pagamentos do programa flutua mensalmente segundo os processos de inclusão, exclusão e manutenção de famílias beneficiárias.

"Nos últimos meses, houve redução no número de inclusões de famílias", reconheceu, em nota, o ministério.

O governo espera que isso seja normalizado com eventual melhora da economia e uma reestruturação em estudo.

Neste ano, a cobertura chegou a 14,3 milhões de famílias em maio; desde então, registra seguidas quedas —foram 13,5 milhões em setembro.

Podem receber o benefício famílias com renda mensal por pessoa de até R$ 89, ou de até R$ 178 se houver criança ou adolescente de até 17 anos. A média do valor recebido é de R$ 188,63, segundo dados de agosto. Quase metade das famílias está no Nordeste.
(…)
Íntegra aqui

COMENTO
O dinheiro é curto. Ainda assim, é possível fazer escolhas. Mesmo na carência. O governo Bolsonaro ainda não conseguiu pôr os pobres na sua equação. Notem que não faço juízo de valor. Trata-se apenas de um fato.

E, vejam que coisa!, onde os muito pobres estão, que é o Bolsa Família, começa a faltar dinheiro.

Faltam dinheiro e juízo.

Governos conservadores tendem a uma certa idiotia na área de assistência social que se confunde com insensibilidade, alienação e cinismo. E talvez não faltem esses componentes a se juntar à idiotia.

Corte-se de qualquer outro lugar, mas se mantenha o único programa destinado a minorar os extremos da pobreza. Em vez disso…

Claro! Sempre se pode acenar para essa gente com aquela história que Delfim Netto não disse sobre o crescimento do bolo…

Só não enrosquem depois com os eleitores, por favor.

Observem que todos os programas sociais relevantes que há no Brasil, mesmo que em declínio por falta de verba, são aqueles criados pelo Prisioneiro de Curitiba.

As nossas elites gostam de reclamar do povo. Mas nunca se perguntam a quem, afinal, o povo pode reclamar.

Ele acaba reclamando nas urnas.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.