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Reinaldo Azevedo

No “currículo” de Canal, que queria Secretaria da Receita, vínculo com a LJ

Reinaldo Azevedo

02/10/2019 16h37

É estupefaciente!

Uma espécie de currículo de Marco Aurélio Canal circulou pelos gabinetes de Brasília exaltando as suas qualidades técnicas. Sim, havia uma movimentação, acreditem, para fazer dele secretário da Receita. Ah, parte do que está lá é verdade.

O texto faz menção crítica à jornalista Monica Bérgamo e a mim. Afinal, fizemos o óbvio: apontamos a conexão, no âmbito de vazamentos de dados sobre Gilmar Mendes e sua mulher, de Canal com a Lava Jato.

Querem trechos do currículo? Seguem conforme o original.
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O Auditor Marco Aurélio Silva Canal é responsável pela Equipe de Programação da Operação Lava Jato, Calicute e CPI dos Fundos de Pensão, desde a deflagração das mesmas.

O trabalho de programação tem em sua competência a seleção de contribuintes a serem fiscalizados e a definição das linhas de auditoria em cada caso, mediante critérios técnicos e impessoais. Uma espécie de trabalho preliminar à auditoria propriamente dita, uma inteligência ostensiva, onde os integrantes se identificam e utilizam sistemas inerentes a atividade de forma identificada e sujeitos a todas às regras de sigilo.

Com o sucesso das metodologias implementadas na Lava a Jato, logo após as conclusões da "Operação Vícios" (Fraude na Casa da Moeda, que envolveu a alta cúpula da Receita Federal),  houve demanda do Gabinete da Receita Federal acerca da extensão de metodologias e criação de outras voltadas a agentes públicos em geral.

Reuniram-se as dez regiões fiscais para as respectivas sugestões de linhas de trabalho. O auditor Marco Aurélio apresentou detalhes técnicos de como realizara parâmetros e tratamentos dentro das operações especiais. Criou-se então a Equipe Especial — de Programação —, voltada a fraudes da qual o Auditor NÃO PARTICIPA OU MESMO PARTICIPOU da confecção e parametrização das atividades dessas equipes pelo Brasil. Apenas apresentou, sob ordens, as metodologias de sucesso nas operações, tais como: técnicas de identificação de empresas noteiras voltadas à prestação de serviços, técnicas para identificação de empresas que serviram de passagem de recursos sem efetiva prestação de serviços etc. Tudo voltado ao aspecto tributário e identificação do real sujeito passivo. 

Durante oito meses a Equipe Especial de Programação (que continha membros da Equipe do Auditor) criou os parâmetros da dita Nota Copes 48, além de outras. O auditor sequer sabia das incidências ou quais os agentes ou autoridades foram identificados.
(…)

Posteriormente aos vazamentos da Nota 48 e seus parâmetros, a coluna de Mônica Bergamo, Folha de São Paulo, traz associação das análises do núcleo GM produzidas nos parâmetros da Nota 48 com a operação Lava as Jato. Informação replicada pelo repórter Reinaldo Azevedo de forma pejorativa ao Auditor e à Receita Federal. Como já explicado, inexiste essa correlação. A passagem foi meramente operacional considerando as múltiplas funções do auditor Marco Aurélio.

As impressões mostram clara tentativa de desestabilizar o trabalho da Receita Federal nas operações, atingindo as suas supervisões. Os vazamentos ocorreram justamente após as mudanças de comando na Receita Federai.

Desta forma, o Auditor Marco Aurélio Canal em nada agiu diretamente no contexto da Nota COPES 48.

PERFIL
O Auditor Marco Aurélio Silva Canal é responsável pela Equipe de Programação da Operação Lava a Jato, Calicute e CPI Fundos de Pensão, desde a deflagração das mesmas. 

No contexto da Operação Lava a Jato já atuou em face de centenas de contribuintes politicamente expostos. Só no bojo da operação citada atuou-se em face de mais de cem parlamentares na configuração atual do Congresso. O número aumenta se considerarmos a configuração anterior das Casas. Não obstante a quantidade de informações sensíveis, Em cinco anos de atuação, nunca houve sequer um vazamento no âmbito de sua Equipe. 

Os trabalhos foram direcionados em ótica estritamente fiscal, onde depara-se, inevitavelmente, com condutas antijurídicas diversas, passíveis de representação. A sonegação fiscal está presente na prática destas condutas, onde este foco é muito claro quando as construções e documentos são tratados internamente. O problema é quando há vazamento intencional, e as informações são deturpadas e não corretamente analisadas. 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.