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Reinaldo Azevedo

Caso Odebrecht: o combate à corrupção não pode destruir empresas e empregos

Reinaldo Azevedo

04/10/2019 03h39

O buraco em que o Brasil se meteu com delações premiadas sem regras e com o estado de direito regulado pelos extremistas das redes sociais custa dinheiro, empregos, desenvolvimento. O caso da Odebrecht é um bom exemplo. A CEF, um banco público, pede a falência da empreiteira. A forma em curso de combater a corrupção no Brasil destrói as empresas, o desenvolvimento e o futuro.

Informa a Folha:
Caixa Econômica Federal pediu nesta quinta-feira (3) a liquidação do conglomerado de construção Odebrecht, de acordo com um documento judicial a que a agência de notícias Reuters teve acesso.

A Caixa também quer que o juiz permita aos credores nomear novos administradores para o conglomerado e suas subsidiárias em uma assembleia.

A Odebrecht, que pediu recuperação judicial em junho, apresentou um plano de reestruturação que foi contestado por parte dos credores.

Na semana passada, a Caixa já havia pedido a anulação da proposta do grupo, que enfrenta problemas financeiros desde que foi alcançada pela Operação Lava Jato.

Em nota, a Odebrecht disse que ainda não teve oportunidade de analisar o caso. "É natural em qualquer recuperação judicial que os credores façam questionamentos nas diversas fases do processo. É mero cumprimento de formalidades, ou estratégia jurídica sem consequências imediatas sobre o andamento normal da recuperação judicial, que está apenas na fase inicial", diz.

"A Odebrecht está em processo de negociação construtiva com os seus principais credores e confia em que o seu plano de recuperação será aprovado para a preservação dos seus mais de 40 mil empregos", complementam.Nesta quinta, o Banco do Brasil se juntou aos credores insatisfeitos e também solicitou à Justiça que anule o plano de recuperação judicial e obrigue o conglomerado baiano a apresentar uma nova oferta aos seus credores.
(…)

RETOMO
O fato de a CEF pedir não quer dizer que o destino da Odebrecht esteja selado. Mas estamos diante da evidência, sim, de que o modo como se está a combater a corrupção no país está destruindo empresas e empregos.

"Ah, então deveria ficar tudo como estava?"

Obviamente, a resposta é "não". Mas parece evidente que o país precisa de uma regulamentação na lei de delações, que não entregue o futuro de milhares de empregos à sanha de procuradores amostrados e celerados e de juízes com projeto político.

Da mesma sorte, é preciso que se tenha um único órgão, ainda que reúna representantes de vários entes, para negociar acordos de leniência. E ele tem de ter a palavra final, ficando o eventual acordo sujeito apenas à homologação da Justiça. Estabelecida a multa — que não pode quebrar a empresa — e sendo esta paga ou estando em processo de pagamento, a empresa não pode sofrer sanção de nenhuma outra natureza, podendo executar obras contratadas junto ao poder público.

E que os responsáveis, na esfera penal, arquem com o peso de suas escolhas.

O que não é possível é continuar a dizimar empresas, empregos e saber técnico.

A indústria de construção pesada no Brasil está quebrada. É uma estupidez achar que o grupo Odebrecht só chegou a ser aquele gigante porque corrompeu pessoas. Outros também corromperam sem igual desempenho.

A Lava Jato, no entanto, viciou os brasileiros em sangue e em cabeças. E não se quer saber que destino terá a empresa como um ente social, que gera empregos, tecnologia e desenvolvimento.

Passada essa onda de estupidez, o Congresso terá de dar uma resposta não à canalha que berra nas redes sociais, mas ao país.

Que os corruptores e corruptos paguem, mas que as empresas sobrevivam.

No Brasil, decidiu-se matar tudo. Em nome da moral e dos projetos políticos de Deltan Dallagnol e Sergio Moro.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.