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Reinaldo Azevedo

Waldir chama outra vez Bolsonaro de vagabundo. E ato que rende impeachment

Reinaldo Azevedo

19/10/2019 08h44

Delegado Waldir: de bolsonarista fanático ao xingamento (Foto: Dida Sampaio/Estadão)

A crise se adensa

Em entrevista ao Estadão, o ex-bolsonarista roxo Delegado Waldir (GO) volta a chamar o presidente Jair Bolsonaro de "vagabundo", acusando-o de usar recursos do Fundo Partidário para comprar o apoio de deputados à candidatura de Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, ao posto que hoje é de Waldir: líder do PSL na Câmara.

Pior: uma conversa de Bolsonaro ao telefone sugere que isso realmente aconteceu. Só para lembrar: o fundo é dinheiro público. Comprar a adesão de deputados com recursos do erário, ainda que sob a guarda do partido, remete diretamente ao Artigo 4º da Lei 1.079, a do impeachment:
Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentarem contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra:
II – O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados;
V – A probidade na administração;
VII – A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos
.

Bolsonaro está acostumado a ser o limite da aspereza entre os de sua grei. Está sendo alvo agora de um vocabulário que ajudou a tornar corriqueiro na política. Em sua ação destrambelhada para tomar o controle do milionário PSL, armou a maior crise do sua gestão, evidenciando, mais uma vez, que ele consegue ser mais eficaz fazendo oposição ao próprio governo do que… governando.

O líder do PSL não economiza:
"É uma vitória fenomenal eu ainda estar na liderança, considerando que líder do governo, o presidente e ministros estão atuando contra. O governo parou. O governo não existe hoje. A única finalidade do governo hoje é me derrubar da liderança do PSL. A traição vem de onde você menos espera."

Depois de chamar o presidente de "vagabundo", alguma chance de reconciliação? Ele responde, segundo o vocabulário que não é estranho ao presidente:
"Eu não menti. Ele me traiu. Se precisar, eu repito dez vezes. Eu fui um dos quatro votos para ele (na disputa pela presidência da Câmara, em 2016), contrariando meu partido na época, o PR. Votei no Bolsonaro. Recusei R$ 2,5 milhões de emendas parlamentares na época e vim para o PSL. Andei 246 municípios no sol. Fui chamado de louco ao defender Bolsonaro. Ele nunca me recebeu e agora me traiu ao pedir ao Bivar, por proposta do Major Vitor Hugo e do governador de Goiás Ronaldo Caiado, o diretório do Estado. Então, é vagabundo."

A entrevista evidencia, por óbvio, um imenso contencioso de rancor pessoal, mas também deixa claro que o PSL, que veio ao mundo sem eixo que não fosse o apoio a Bolsonaro, segue sem norte, sem rumo, sem orientação.

O deputado afirma:
"Eu fui duramente atacado nos últimos dias por grupos de direita, tive de excluir do meu Instagram mais de 1.500 seguidores, que a gente sabe que são robôs. É uma armação orquestrada. Estaremos contra o governo porque ele é contrário à instalação da CPI Lava Toga. Mas, nas pautas econômicas, estaremos juntos."

Pois é… Waldir tem razão para se zangar com a interferência de Bolsonaro. Por outro lado, ele se opõe, como se percebe, a uma das poucas decisões corretas do presidente: não dar apoio à tal CPI da Lava Toga.

O governo ainda não completou dez meses. E o líder do partido do presidente o acusa abertamente de cometer crime de responsabilidade.

E aí? Fica por isso mesmo?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.