Bolsonaro, a saída do PSL e o novo partido: a estabilidade da instabilidade
Na entrevista concedida neste domingo à TV Record com o propósito, entre outros, de atacar a Globo, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro que pretende ter um partido que seja literalmente seu — o PSL mesmo ou outro que venha a criar.
Segundo disse, é de "80% [a possibilidade] pra sair e de 90% pra criar um novo partido. Que vai começar do zero. Sem televisão, sem fundo partidário, sem nada."
O presidente que se orgulha de ter sido bom em matemática quando fazia a Academia Militar das Agulhas Negras certamente inverteu as bolas: a chance de criar um novo partido não pode ser maior do que a de deixar o velho, certo?
Afinal, a condição necessária, mas não suficiente, para que exista o B (novo partido) é que aconteça o A (saída do PSL). Logo, sair do PSL tem de ser mais provável do que criar a nova legenda: a criação depende da primeira condição, mas tem seus próprios entraves, daí que essa possibilidade seja necessariamente menor do que aquela.
E tentou explicar os motivos: "Eu pago a conta sobre qualquer desvio de terceiro no partido. E a mesma coisa acontece no tocante a Fundo Partidário (…). Quero que o partido não tenha problema nas eleições municipais do ano que vem e numa possível reeleição minha em 2022."
Pois é…
Nem parece ser o chefe de Marcelo Álvaro Antonio a falar.
Nem parece ser o pai de Flávio Bolsonaro, aquele que tinha como faz-tudo Fabrício Queiroz.
Bolsonaro sabe que dificilmente levará fundo partidário, fundo eleitoral, tempo de televisão… Seus advogados estão hoje empenhados, caso se concretizem mesmo a sua saída e a criação da nova legenda, é em tirar o dinheiro do PSL, ainda que os recursos não migrem para a nova legenda.
O jogo político do presidente se desenhando. Vai continuar a investir pesado nas redes sociais; conta com um Congresso que leve a agenda de reformas, pouco importando as caneladas que receba do Executivo; cria uma nova legenda que pode nem dispor daqueles benefícios, mas tem o Executivo — um benefício e tanto! —, e aposta na retomada do crescimento, ainda que lenta, para atrair apoios.
Na prancheta, parece dar certo. Como diria Garrincha, os russos não aparecem na equação. Falaremos bastante deles aqui ao longo dos dias.
De toda sorte, note-se: Bolsonaro investe na instabilidade política porque aí está o seu ponto de estabilidade.