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Reinaldo Azevedo

3- FOSSE EU CIRO, FARIA O SEGUINTE: anteciparia o 2º turno no 1º e proporia frente antifascista; adversários não podem fazê-lo já

Reinaldo Azevedo

15/09/2018 22h38

Ciro Gomes: entendo que ele tem de antecipar para o 1º turno a frente contra Bolsonaro

ATENÇÃO, LEITOR! ESTE TEXTO PRECISA SER LIDO COLOCANDO-SE NA POSIÇÃO DO CANDIDATO EM QUESTÃO. NÃO É UM JUÍZO DE VALOR DO AUTOR.

Ciro Gomes, do PDT, está em segundo lugar na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta, com 13% das intenções de voto, em empate rigoroso com o petista Fernando Haddad. Moveu-se três pontos percentuais em duas semanas: tinha 10% no dia 22 de agosto e foi para 13% no dia 10, mesmo índice desta sexta.

Está em empate técnico também com Geraldo Alckmin (9%), mas, nesta rodada ao menos, a disputa que se anuncia para enfrentar Jair Bolsonaro no segundo turno é mesmo com um candidato de esquerda: Haddad. Na região Nordeste, por exemplo, ambos estão tecnicamente empatados: 20% a 18% para o petista. O mesmo acontece na Sudeste: 12% a 10%, aí com Ciro à frente. São as regiões com o maior eleitorado do país. Ocorre que Lula liderava em ambas (59% na Nordeste e 31% na Sudeste). Como o ungido do ex-presidente está em pleno processo de transferência de votos, parece que não seria muito produtivo Ciro tentar demonstrar que Haddad não é Lula, já que este diz que sim. O procedimento seria de baixa eficiência.

Ciro conta, ademais, com deficiências estruturais óbvias quando confrontado com Haddad: dispõe de alguns segundos apenas no horário eleitoral de rádio e televisão e de uma estrutura partidária minúscula quando comparado com o gigantismo do adversário à esquerda. Entendo que, ao contrário do que sugere uma primeira abordagem do tema, o pedetista deveria tratar de Haddad apenas como uma questão colateral. Explico.

É Ciro, segundo a pesquisa, o candidato que bateria Jair Bolsonaro com mais facilidade 45% a 35%. O candidato do PSL encurta a distância no confronto com Alckmin (41% a 37% para o tucano) e com Haddad (41% a 31% para o capitão reformado, um empate técnico). Aliás, o pedetista é o único candidato que venceria todos os potenciais adversários fora da margem de erro. Contra Alckmin, por exemplo, marca uma vantagem de seis pontos: 40% a 34%.

Se eu fosse Ciro, não procuraria tirar os votos de Haddad, mas ganhar a adesão de eleitores, como dizem por aí, "progressistas"      que, por ora, estão com outros candidatos. Marina Silva (Rede) ainda conta com 8% das intenções de voto. Perdeu 50% em três semanas. Os que resistem, tudo indica, são avessos a Bolsonaro — contra quem a candidata já se bateu de peito aberto —, mas também não se sentiriam representados, em sua maioria, pelo petismo.

Segundo a pesquisa, 9% do eleitorado que se identifica com o PT ainda está com Marina — esse índice era de 19% há três semanas. A turma migrou para Haddad, que, no período, viu tal número saltar de 11% para 39%. Mas, notem, há eleitores claramente de esquerda que ainda permanecem com a candidata. E aqueles que são propriamente marinistas tendem a repudiar Bolsonaro. Cumpre a Ciro, entendo, fazer a campanha do voto útil junto ao eleitorado da candidata em particular e apelar, de maneira geral, contra o risco de um governo autoritário, representando por Bolsonaro.

"Ele tem de fazer a mesma coisa que você recomendou a Alckmin, Reinaldo?" Não! Releiam "O que eu faria se fosse Alckmin". O tucano tem de alertar para os males decorrentes de uma polarização de extremos. A Ciro compete alertar para o risco de retrocessos institucionais, sociais e na área de direitos humanos. Ou por outra: em lugar dele, proporia desde já uma espécie de embate de segundo turno contra o candidato do PSL: civilização contra barbárie.

Observem: o discurso de esquerda de Haddad está centrado na sua identificação com Lula e nas alegadas injustiças de que o ex-presidente foi vítima, que contribuíram para tirá-lo da eleição. O PT está reservando o embate propriamente ideológico para um eventual segundo turno. Ciro não precisa esperar. A rejeição a Bolsonaro, de 44%, evidencia que a repulsa a seu nome se espalha por todos os estratos da população. Chega a 47% entre os que ganham até 2 salários mínimos. Ele conta, por exemplo, com 36% dos votos de quem recebe mais de 10 mínimos, mas 38% não votariam nele de jeito nenhum.

E, por óbvio, Ciro deve apelar às eleitoras de todos os demais candidatos. Nada menos de 49% das mulheres dizem não votar em Bolsonaro. O pedetista conta com 13% nesse estrato — no dia 10, eram 9%. Em suma: em lugar de Ciro, eu optaria por algo como "todos contra o fascismo". Também nesse caso, bater em Haddad corresponde, entendo, a fortalecer Bolsonaro, correndo o risco de não ganhar voto nenhum.

Sim, claro! No próximo texto, aguardem!, direi o que eu faria se fosse Bolsonaro.

Para ler "Se eu fosse Alckmin", clique aqui

Para ler "Se eu fosse Haddad", clique aqui

Para ler "Se eu fosse Bolsonaro", clique aqui

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.