A negativa do PRP em compor com Bolsonaro nos remete a FHC e Lula. Por que esses dois buscaram aliados no campo ideológico oposto?
A negativa do minúsculo PRP em compor com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) deve introduzir um marco na análise dos que se ocupam de entender e esmiuçar essa seara muito particular da experiência humana chamada "política". Um candidato à Presidência tem de ter um conjunto de propósitos, e estes vão ou não se realizar na exata medida em que o chefe do Executivo contar ou não com o apoio do Congresso. Não é uma tarefa fácil. Não é uma tarefa corriqueira.
FHC estabeleceu a modernização do Estado — que passava pelas reformas e pelas privatizações — como um alvo. Vinha de uma tradição de esquerda e se voltou para a direita de viés patrimonialista, o PFL, para realizar seu intento. E realizou. Lula, vamos ser claros, radicalizou, do ponto de vista ideológico, essa composição de contrários: membro de um partido inequivocamente de esquerda, compôs com a direita dita fisiológica e, goste-se ou não das escolhas, deu escala nova aos programas sociais e à distribuição de renda.
Cumpre, assim, indagar aos postulantes à Presidência da República quais são os marcos, então, dessa postulação e com quem pretendem empreender a trajetória, sempre tendo claro que as parcerias também contemplam concessões. Porque essa é a natureza do jogo político. No Brasil ou em qualquer lugar em que se pratique a democracia.
Candidatos de si mesmos ou que atendem apenas aos amores e fúrias de bolsões radicais, ainda que venham contar com razoável apoio da sociedade, marcam necessariamente um encontro com o desastre. Aconteceu com Fernando Collor e aconteceu com Dilma Rousseff, aquela que iniciou sua experiência de poder com a maior base de apoio no Congresso na história do Ocidente e terminou sem contar nem um miserável terço na Câmara ou no Senado que lhe pudesse garantir a permanência no poder.
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