Afirmei aqui no dia 16 que Bolsonaro em Davos tendia à aplicação de estelionato ideológico; no caso, o pior seria a honestidade intelectual...
Davos, eu já disse aqui, é a crème de la crème da economia globalizada. Se há um lugar em que o capitalismo ambiciona ter uma alma e uma face humanista, bem, esse lugar é Davos. Embora seja um fórum originalmente privado, tornou-se um palco para o debate de questões globais de natureza pública. Enrolados em problemas internos, líderes como Emanuel Macon (França), Theresa May (Reino Unido) e próprio Trump podem se dispensar de comparecer ao evento. Eles dependem menos da confiança de investidores internacionais do que o Brasil. Se o governo Bolsonaro puser mesmo em marcha um amplo processo de privatizações, a confiança será um elemento fundamental. E o país não pode ser dar ao luxo de ignorar o que dizem a seu respeito lá fora.
E os empresários quiseram saber o que pensa Bolsonaro sobre as mudanças climáticas, por exemplo. Se repetisse a interlocutores o que afirmou aqui dentro a seu eleitorado, à sua virulenta militância de Internet, secundado por Ernesto Araújo, o chanceler, o resultado teria sido o pior possível. Mas Bolsonaro amansou. E o que se viu foi o bom estelionato eleitoral. Escrevi neste blog no dia 17 de janeiro:
"Jair Bolsonaro falará na sessão inaugural do Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, que começa no dia 22 e se estende até o dia 25. É a primeira vez que um líder latino-americano merecerá tal deferência. Eu estou pronto para aplaudir o que ousaria chamar aqui de um 'estelionato ideológico' do presidente brasileiro. Afinal de contas, Davos é tudo aquilo que os chamados 'antiglobalistas' mais execram."
Bem, então lá vou eu: aplaudo Bolsonaro por ter traído a sua base de eleitores, a quem prometeu deixar o acordo de Paris. O homem viu que a música toca de outro jeito. Se falasse em Davos o que andou a dizer por aqui sobre o Acordo do Clima, seria tratado como maluco. E isso certamente teria um preço. Como esquecer que ele chegou a atribuir ao acordo a existência do tal "Triplo A", que seria uma zona internacionalizada, que compreenderia Andes, Amazônia e Atlântico? Isso nunca fez parte do texto. Era uma invenção de psicopatas de extrema-direita.
Continua aqui