Bolsonaro no Roda Viva 4: no seu melhor pior momento, o candidato trata o fuzilamento como um merecimento. Mais: estupro e mentira
Jair Bolsonaro provou a sua incrível capacidade de não aprender nada nem de esquecer nada. Indagado, no Roda Viva, por José Gregori, ministro dos Direitos Humanos de FHC, se havia mesmo dito que o ex-presidente e o próprio Gregori deveriam ter sido fuzilados pela ditadura, o candidato confirmou ter imaginado o líder tucano diante de um pelotão. Com desdém, disse não ter incluído Gregori na lista porque o ex-ministro não era, digamos, digno de tal distinção.
Uma resposta sem dúvida apropriada a quem considera também o estupro um merecimento. Mas que só contempla as mulheres bonitas. E aqui está a sua meia-verdade, que é mentira inteira. Afirmou que só respondeu que não estupraria Maria do Rosário — porque esta não merecia — depois de ela tê-lo chamado de "estuprador". De fato, as duas coisas aconteceram em 2003. Nenhum dos dois levou o outro ao Conselho de Ética.
Ocorre que a frase que o fez réu no Supremo não é a de 2003, mas a de 2014: 11 anos depois, ao vê-la deixar o plenário quando ele discursava, afirmou:
"Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí! Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir".
Na sequência, deu uma entrevista ao "Zero Hora" e foi adiante:
"Ela [Maria do Rosário] não merece [ser estuprada] porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece".
Lembro essas circunstâncias para apontar uma mentira, que ficou sem correção. Apego aos fatos apenas.
Afinal, o eleitor típico de Bolsonaro deve ler essas declarações com entusiasmo genuíno, não é mesmo? Os mais literalistas talvez olhem para as mulheres e as distingam entre as que mereceriam e as que não mereceriam ser estupradas. Isso se fossem estupradores, é claro!
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