FIM DO CELIBATO 2: A Igreja tem quase 500 mil clérigos. Molestadores constituem extrema minoria. E uma tese de 12 anos
Ai, ai… No dia 28 de outubro passado, um texto meu intitulado "O desastre do celibato: São Pedro tinha sogra" completou 11 anos. Caminha para 12. Voltei com força ao tema em 2009 e, depois, em 2010. Por quê? Ora, lá estava a Igreja Católica a ser sacudida por denúncias de pedofilia — na maioria das vezes, como é sabido, clérigos são acusados de molestar meninos e adolescentes. O papa Francisco comanda até domingo um encontro considerado "histórico" com os bispos de todo o mundo para tratar do assunto. A Igreja dá, assim, voz às vítimas. É justo e necessário. Mas tem tudo para ser também inútil. Por quê? Há uma armadilha construída pelas circunstâncias que deixa a Igreja refém de um pedido de desculpas permanente e de um processo de reparação que não acaba nunca. Para romper tal padrão, só mesmo uma ação de natureza disruptiva: o fim do celibato obrigatório. Vamos com calma. Explico.
Segundo o Annuarium Statisticum Ecclesiae 2016, a Igreja contava com 466.634 clérigos, sendo 5.353 bispos, 414.969 sacerdotes e 46.312 diáconos permanentes. Vamos lá. Se, neste momento, houver 1% dos chamados "molestadores" entre eles, estamos falando de 4.667 pessoas. O número deve ser muito menor, ou a avalanche de escândalos e denúncias seria ainda mais avassaladora. Quando se debate o tema, pouco se considera que denúncias de períodos distintos vêm ao mesmo tempo, trazidas a valor presente. Resultado: a Igreja acaba se confundindo com um antro de molestadores. NÃO ESTOU TENTANDO MINIMIZAR A GRAVIDADE. TANTO NÃO ESTOU QUE VOU MEXER NUM VESPEIRO. JUSTAMENTE PORQUE É GRAVE.
Há mais. A Igreja Católica é a maior organização una do mundo. Digam outra instituição ou ente que reúna tanta gente sob um mesmo comando. Não há escândalo envolvendo molestadores evangélicos — e os há, não? — porque inexiste uma unidade evangélica. Ou uma central de médicos, de caminhoneiros, de padeiros etc. Ou por outra: o molestamento de crianças, de adolescentes e, em grau muito menor, a julgar pelas histórias que vêm à luz, de mulheres é a exceção, não a regra. Ocorre que a Igreja tem também muitos inimigos. E não há espaço para ponderações.
Ou a Igreja sacode a sua própria história, em nome da conservação dos seus valores, ou sua reputação continuará a ser minada por um conservadorismo triste, que, de resto, nada tem a ver com seus dogmas. E, se querem saber, sem nem mesmo amparo bíblico.
Volto neste conjunto de posts sobre à Igreja, às considerações que já caminham para os 12 anos, quase a idade que tem este blog, que completa 13 no dia 24 de junho. A Igreja é bem mais antiga. Seus acertos e erros também.
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