FIM DO CELIBATO 8: Não é preciso ser muito agudo para constatar que padres têm uma realidade apartada da vida real
Não fiz a contabilidade. Mas tendo a achar que existem na Bíblia mais recomendações em favor do casamento do que contra ele. Mas, ainda aqui, estaríamos só no terreno da literalidade. A minha pergunta é outra: o que há na mensagem espiritual de Cristo que recomende que o homem, sacerdote ou não, viva apartado da mulher? Olhe aqui: não importa a que corrente da Igreja você pertença — ou, mais amplamente, do cristianismo, e a resposta é uma só: NADA!!!
Uma Igreja que pudesse acolher um número muito maior de vocações — homens que pudessem formar família — constituiria, aí sim, a verdadeira comunidade eclesiástica. Não é preciso ser muito agudo para perceber que os padres vivem uma realidade que absolutamente os aparta da vida real. E para quê? Para que possam se dedicar mais a Deus e à Palavra? Lamento muito: isso é mentira! Boa parte deles, hoje, infelizmente, ignora até o texto bíblico. O que parece uma vida de renúncia se confunde mais com alienação.
O celibato tem de acabar não para revolucionar a Igreja. Trata-se de um movimento de "conservação". De certo modo, corroída pela "revolução", ela está hoje. Quantas forem as recomendações contra o casamento que os "literalistas" encontrarem, asseguro, outras poderão ser encontradas a favor dele. A Igreja deve ser um lugar onde se vive uma convicção, não onde se esconde uma condição.
E para que nada fique sem tratamento: todas essas minhas considerações excluem a admissão para o sacerdócio de gays e mulheres? Meus caros, eu não excluo ninguém de nada. Dispenso-me de ter de provar que uns e outras possam ser mais fiéis às generosidades abraçadas por Cristo do que parte relevante dos padres que temos. Mas a Igreja também é uma espécie de clube fechado e privado, não é?, ainda que de dimensão pública e universal. As palavras do papa sobre a professora Linda Ghisoni mostram o quanto se precisa caminhar. Atenho-me aqui ao que me parece um pouco mais próximo, ainda que também distante.
O papa João Paulo 2º admitiu no dia 31 de novembro de 1992 que a Igreja errou ao perseguir Galileu Galilei (imagem), que morreu em 1642. Talvez seja o caso de acelerar um pouco o seu próprio andamento em face da história.