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Reinaldo Azevedo

Já no dia do protesto, as fotos mais ousadas do “#EleNão” invadiram templos evangélicos e católicos. O resultado foi contraproducente

Reinaldo Azevedo

03/10/2018 07h44

Meus caros, eu não me deixei iludir por aquela que foi, sem dúvida, uma manifestação muito evidente da repulsa provocada pelas ideias de Bolsonaro. Ocorre que o alvo dos protestos não dormem no ponto. Por bastante contundente, o "#EleNão" fez com que o outro lado se preparasse para a batalha. Por bastante diversificado, como já notei aqui, levou para as ruas também as tribos que não têm receio de, vamos dizer assim, afrontar os tais "valores conservadores".

Fotos de pessoas seminuas ou fazendo caricaturas sobre sensualidade, sempre com o ânimo de provocar os conservadores, inundaram as redes sociais e circularam freneticamente sobretudo entre evangélicos. O tema foi matéria de proselitismo religioso em milhares de templos país afora, como se o comportamento de uma extrema minoria — e não estou fazendo juízo de valor sobre se mostrar a bunda é bom ou ruim — fosse, na verdade, o padrão dos muitos milhares que se reuniram para dizer "Ele Não". Assim como a garotada embriagada, carregando bebida na mão, que desceu a Augusta no domingo, com camisetas de Bolsonaro, não representava o comportamento das também milhares de "Ele Sim".

Ocorre que os bolsonaristas sentiram o cheiro do perigo — a eventual generalização de uma onda contra o candidato e partiram para a guerra, aplicando, digamos assim, as vacinas. Certamente havia pobres protestando contra Bolsonaro, como os há entre seus admiradores. Mas O "#EleNão" é um movimento liderado pela classe média mais descolada, informada, para a qual o feminismo e as conquistas políticas da mulher são um valor. Mas as mulheres de renda mais baixa e que vivem outra realidade tiveram acesso nos cultos, também os católicos, a imagens que não as representam. Não duvidem: mostrar o bumbum num protesto genérico contra conservadores pode até provocar algum efeito positivo. Numa disputa eleitoral, porque é disso que se trata, corresponde a desnudar-se diante do inimigo. Não costuma ser uma boa política. Certamente ele fará um uso da coisa diferente daquele que o desnudo imaginou.

Não estou responsabilizando o "#EleNão" pela inversão de tendência. Estou informando o que acontece e explicando como as coisas funcionam.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.