MORO E PALOCCI 3: Caso nada tem a ver com apuração da imprensa; liberal que aplaude uso instrumentalizado do Estado é só fascistoide
Mas e a VEJA? Não fez a mesma coisa? A revista não é órgão do Estado. Publica o que consegue apurar — que é essa, aliás, a função precípua da imprensa. Desenterrou, sim, um processo antigo, já encerrado, mas que trazia uma questão de interesse público. A lista de bens que Bolsonaro entregou à Câmara é um documento. A que fez parte do processo de separação, também. O mesmo se diga do relato que está no Itamaraty. E os leitores e eleitores que façam seu julgamento. Se o Ibope estiver certo, a reportagem de capa não atrapalhou a candidatura do deputado. Pode até tê-lo beneficiado em razão da mobilização criada pelos militantes para tentar desacreditar a revista.
No caso de Moro, por óbvio, a situação é outra. Estamos falando de órgãos do Estado. Não reconhecer a diferença entre uma coisa e outra é algo bastante típico desses dias. Pior até: vejo, com frequência, a inversão do vetor moral nos dois casos: a VEJA teria errado, mas Moro só teria prestado um serviço à humanidade.
Claro, claro… Sei o peso de escrever essas coisas. Fazer o quê? Se muitos dos que eu tinha até anteontem como liberais estão condescendendo com esses arreganhos autoritários sob o pretexto de combater o PT, o que dizer? Lá vou eu atravessar, mais uma vez, uma quase deserto. O liberalismo, no Brasil, por enquanto, é uma ideia que não vingou. Guarda tanto parentesco com o que chamo de fascismo de esquerda como guarda com o fascismo de direita: nenhum!
Enquanto eu puder escrever e puder falar contra o uso industriado do Estado para fazer política, eu o farei. Se houver liberais perdidos por aí que ainda acreditem no triunfo da ordem legal, vamos nessa. Se não houver, vou caminhando sozinho ou quase.
Quem aplaude essas aberrações dizendo-se liberal está apenas confundindo as coisas. Seu nicho natural são os grupamentos fascistoides.