O que afirma general não tem como ser posto em prática. Positivismo foi ciência querendo ser religião; religião não pode querer ser ciência
O que o general Aléssio Ribeiro Souto diz sobre educação não é operacional. Vai-se instalar uma delegacia de polícia voltada para conteúdo em cada sala de aula do país? Essa é uma daquelas falas do bolsonarismo que geram mais calor do que luz. Precisamos cuidar de uma revolução técnica na educação. A função do governo não é ficar submetendo a história a processos revisionistas ou, sob o pretexto do pluralismo e da não-interferência na convicção das famílias, igualar a crença — um direito, sim! — à ciência.
Ora, general, esse nem parece o Exército que se deixou marcar de forma tão importante pelo Positivismo, uma aposta na ciência que ambicionou ser uma religião. Convém não fazer o contrário: conferir à religião o estatuto de ciência. Cada coisa no seu quadrado. Os crentes certamente acreditam que Deus intercedeu pela recuperação de Bolsonaro, por exemplo. Mas mesmo estes devem reconhecer que a obra de Deus tende a ser mais bem-sucedida, nesses casos, num hospital como o Albert Einstein. E todo o saber científico ali acumulado — o científico, não o religioso — deve mais a Darwin do que a Deus.
Bolsonaro deveria se dar conta de que está prestes a ganhar a eleição. E deveria cobrar de seus colaboradores mais objetividade técnica e menos ideologia. Mais Darwin e menos crendices.