PREVIDÊNCIA 3: Propósito de Guedes é correto, mas ele é vítima de uma concepção de mundo; não é contador de político; também é político

Paulo Guedes é, em certa medida, para empregar a expressão de um pensador da política, "vítima de sua própria concepção de mundo". Passou a circular um número que tem um certo "quê" de magia e de suposto imperativo categórico no terreno da economia: economizar — ou deixar de torrar — R$ 1,3 trilhão em dez anos, o que corresponde a R$ 130 bilhões por ano. Numa conta rápida, a proposta de Temer, na sua versão final, levaria à economia de R$ 480 bilhões em dez anos — ou R$ 48 bilhões por ano. Se a aquela que quer Guedes corresponde a 2,7 vezes a pretendida pelo governo anterior, também deve impor o "dobro vírgula sete" de sacrifícios ou corte de privilégios — ou ambos, já que não se pode considerar uma dádiva ser um idoso miserável ou portador de necessidades especiais. Ao falar com a imprensa, o ministro deixou claro que ele próprio faz os cálculos econômicos, mas as escolhas políticas serão de Bolsonaro. É o que chamo ser "vítima de uma concepção de mundo". Ele não exerce cargo de contador, que apenas diz ao chefe quando o livro-caixa está no azul ou no vermelho e se encarrega de lançar corretamente os itens na coluna de despesas ou receitas. Ministro tem cargo político. Já virou clichê, mas é fato: a pior de todas as reformas é aquela que não é aprovada. E a melhor nunca será feita. A política existe para transitar no orbital entre esses dois extremos, não é mesmo?
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