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Só 2 de 10 partidos apoiariam doação de empresas. Há quem só queira um picolé no portão

Reinaldo Azevedo

26/08/2017 07h13

Reportagem da Folha ouviu lideranças de 10 partidos — PMDB, PT, PR, PP, PSB, PRB, DEM, PDT, PSDB e PSD — sobre a eventual volta da doação de empresas privadas a campanhas. Apenas os representantes de duas siglas se disseram favoráveis, desde que não haja uma lei mais restritiva do que a anterior: PSDB e PSD.  As demais não querem nem falar no assunto. Há uma PEC no Senado que restitui essa modalidade. De lá não deve sair tão cedo.

Sem as doações de pessoas jurídicas, a alternativa é o fundo público. A comissão especial da Câmara aprovou a proposta, mas sem fixar o valor. Qualquer um que saiba fazer conta sabe que os R$ 3,6 bilhões anteriormente previstos são um volume fabuloso de dinheiro em si, mas pouco para a campanha. Se o número de candidatos a deputados federais e a deputados estaduais do ano que vem for o mesmo de 2014 e caso se doasse, como se chegou a pensar, um terço para essa disputa, cada um receberia mais ou menos R$ 48.300! Isso não elege nem vereador de cidade pequena.

Vale dizer: mesmo que se aprove o fundo "com muito dinheiro", ter-se-á, na verdade, muito pouco. E, portanto, um volume de caixa dois que baterá todos os recordes. Lembro que, oficialmente, as disputas de 2014 custaram R$ 5,2 bilhões. Todo mundo que conhece a área sabe que foi muito mais do que isso.

Na terça, a Câmara tenta votar de novo a proposta. É possível que o fundo, sem o valor, seja aprovado. Obtido o mínimo de 308 votos em dois escrutínios, a proposta seguirá para o Senado, onde não é muito popular.

"Reinaldo, quem não quer nem doação de empresas nem fundo público, quer o quê?"  Sei lá. Ou quer o Marcola ou quer tomar um Chicabom no portão, como a viúva alegre de Nelson Rodrigues. No caso, a pessoa terá enterrado a democracia.

Esse é outro caso em que o rinoceronte surrealista dá as caras. Com olhar perturbado, dentes trincados, fúria quase incontida, as pessoas dizem não querer nem um modelo de financiamento nem outro.

Acho que elas não gostam mesmo é de eleições, né? Ou pensam numa ditadura, ainda que não tenham se dado conta e não chamem a coisa pelo nome. Ou, então, imaginam que se poderia fazer um vestibular para escolher o candidato "mais inteligente".

Pois é… O Tirano de Siracusa chegou primeiro. No século V antes de Cristo!

Não dá certo.

Sim, os que estão nesse impasse são os direitistas.  A esquerda já escolheu o seu sonho: é financiamento público e acabou.

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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