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Alerj 2: Psolista segue Carta e é punido. Democracia Freixo: Cuspir pode; cumprir a lei não!

Reinaldo Azevedo

18/11/2017 08h57

Paulo Ramos (esq), embora do PSOL, votou de acordo com a Constituição. A turma à moda Freixo não gostou e quer expulsar o "rebelde": onde já se viu respeitar a Carta numa democracia?

Um dos votos em favor da revogação da prisão dos deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi foi de Paulo Ramos, do radical PSOL. 

Afirmou ele:
"Não estamos diante de um flagrante delito de crime inafiançável. Discutir o mérito, se houve corrupção ou não, é outra coisa. A prisão é ilegal, mesmo que as práticas atribuídas aos presos sejam as mais desabonadoras".

Toquem os sinos! Há um psolista falando a coisa certa. E, é claro, isso não resultaria em boa coisa para ele. A direção do partido resolveu afastá-lo e se fala abertamente na sua expulsão. Se bem que não vejo como isso poderia ser ruim a alguém, rsss.

Não é do balacobaco?

"O senhor está expulso porque deu um voto de acordo com a Constituição!"

O PSOL tem um dono no Rio, um verdadeiro coronel urbano, alguém que fala por último e decide a forma, o conteúdo, a cor e o cheiro da verdade: chama-se Marcelo Freixo. É o preferido, inclusive, de 10 entre 10 socialistas de Ipanema, Leblon e Copacabana que moram em apartamentos com vista para o mar.

Milionários gostam dele.

Os bilionários também já se dão bem com ele.

Ser amigo de Freixo confere às pessoas certo ar de superioridade moral. Os muito endinheirados, mas nem com tanto caráter assim, resolveram aderir a seu "               socialismo". Pensem bem: perde-se com isso o quê, além de nada? Ele não fará nunca a revolução, certo? Continuará a ser visto como um puro e a contar com a simpatia de Chico Buarque e Caetano Veloso.

"Por que pegar no pé do Freixo? Você não estava falando do Paulo Ramos?"

É que o midiático deputado foi mais do que um simples voto em favor da prisão. Ele também deu uma declaração fabulosa:
"Pelo raciocínio da base do governo, esta Casa só tem autonomia se decidir pela soltura dos deputados. Não é correto, vamos votar o que cada consciência determinar. Esta é uma votação política. O Tribunal teve um entendimento, foram 5 votos a zero, de unanimidade, o que é raro no Judiciário. É uma denúncia muito grave, não é irrelevante".

Trata-se de uma soma de asneiras. De fato, não é o voto contra ou o voto a favor que revelam a autonomia. Mas essas alternativas só se colocariam se as prisões fossem legais. Como são ilegais, o único ato autônomo — AUTONOMIA ENTRE OS PODERES — é mesmo revogar. Ao clamar pelo voto segundo "o que cada consciência determinar", isso poderia querer dizer que Freixo acha legítimas tanto uma coisa como outra. Engano! A consciência de Paulo Ramos, seu colega de bancada, lhe disse para votar em favor da revogação. E FOI PUNIDO.

Em seguida, Freixo se sai com uma das taras da esquerda: o tal "voto político". Ele se nega a examinar a legalidade do que está sendo votado. O tal "voto político" poderia, então, rasgar até a Constituição. Aí vem o "argumento de autoridade", mas de autoridade alheia. Para ele, se a decisão foi unânime na turma de cinco juízes, isso não pode ser ignorado. Para Freixo, basta uma unanimidade de cinco pessoas para revogar dois artigos da Constituição. Em seguida, apela: "É uma denúncia muito grave". Ninguém disse o contrário: que tal seguir a lei e, comprovadas as culpas, punir quem tem de ser punidos? A Assembleia não discutiu nesta sexta a gravidade das imputações.

Seria realmente um momento lindo a expulsão de Paulo Ramos. Nesse caso, o partido não poderia pedir a perda do seu mandato. Caso o deputado não aceite a punição, ele, sim, pode reivindicar a desfiliação e aderir a outra legenda. Nesse caso, adoraria ver o PSOL recorrendo à Justiça Eleitoral para reaver o mandato para a sigla. Qual seria o argumento? "Bem, o deputado Paulo Ramos resolveu ignorar a orientação do partido e seguir a Constituição".

Como é mesmo? Se cobrir com lona, vira circo. Se trancar o portão, vira hospício.

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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