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Qualquer que seja o presidente, o país estará mais seguro com Serra no Senado; torço para que venha a presidi-lo um dia

Reinaldo Azevedo

20/01/2018 04h36

 José Serra: ele anunciou que não vai disputar o governo de SP. Notícia também é boa. Pode ter papel decisivo no Senado (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O senador José Serra (PSDB-SP) desistiu de disputar o governo de São Paulo. Seja lá qual for o motivo, uma coisa é certa: nada tem a ver com a Lava Jato. Até porque, convenham, é quase impossível encontrar um político relevante que não esteja na mira desses salvadores da pátria de meia pataca. Com raras exceções, quem não está na lista dos valentes ou não tem importância nenhuma ou não era político até a eleição de 2014. As razões são simples e óbvias para quem conhece o assunto:
a: a operação misturou no mesmo saco de gatos pardos caixa dois e corrupção;
b: a operação forçou delatores, em prisão preventiva sem data, a confessar corrupção onde havia caixa dois;
c: entre a cadeia, com humilhação sem limites, como se verifica no caso de Sérgio Cabral, e a delação, adivinhem o que escolhe o vivente.

Não estou afirmando que acontece assim, mas que estão dadas as condições para que aconteça assim: o MPF faz a lista daqueles que têm de ser acusados e sai à caça de delatores que topem o jogo sujo.

Fantasio?

Claro que não! Ou Rodrigo Janot não abriu uma espécie de concorrência pública entre Lúcio Funaro e Eduardo Cunha para ver quem alvejava Michel Temer? Fez ou não fez? Funaro ganhou! E tudo o que ele tinha a dizer contra Temer era sempre atribuído a supostas inconfidências de terceiros, Cunha em particular. Parece piada, mas assim se deu.

De todo modo, Funaro, que topou acusar Temer e cuja acusação foi a base da segunda denúncia de Janot, está no conforto do lar, e Cunha está na cadeia. O MPF pede para ele imodestos 386 anos de cadeia.

De novo: Funaro, um bandido reiterado — era personagem do mensalão —, acusou aquele que o MPF queria acusado: ganhou o conforto da vida doméstica nababesca. Cunha se negou a falar sobre Temer o que a Lava Jato queria ouvir. Então quase 400 anos de cadeia para ele!

Isso tudo ocorre sob o nariz da OAB.

Isso tudo ocorre sob o nariz de outras entidades de advogados.

Isso tudo ocorre sob o nariz da imprensa.

Mas volto ao ponto: Serra.

Acho uma pena que não concorra. Aliás, é uma pena que não tenha sido ainda presidente da República. É o político atuante mais preparado que qualquer pessoa com os meridianos ajustados pode conhecer.  Por isso mesmo, é alvo da fúria dos idiotas de direita e de esquerda.

Mas também vejo consequências positivas na desistência. Serra tem ainda cinco anos de mandato no Senado. Só a mudança do marco de exploração do pré-sal no que diz respeito à Petrobras já justificaria o seu mandato. Mas há mais coisa pela frente. Ele está sinceramente empenhado, e faz tempo!, em aprovar o voto distrital-misto no país. Essa medida, mais do que qualquer outra que se tenha debatido até aqui, concorreria efetivamente para baratear as campanhas.

Serra é um senador atuante e com capacidade de exercer liderança intelectual. Qualquer que seja o presidente da República, esteja ele na situação ou na oposição, terá um papel decisivo na Casa. Espero que se criem circunstâncias no futuro que lhe permitam, quem sabe, presidir o Senado.

Assim, se lamento, dada a sua competência, que não vá disputar o governo do Estado, aplaudo o ganho evidente que representa a sua permanência no Legislativo…

"Ah, mas um ex-diretor da Odebrecht disse que… "

Citem um só político relevante sobre quem algum diretor ou ex-diretor de empreiteira, dados os métodos da Lava Jato, não tenham dito alguma coisa. Não é sério o sujeito que não distingue a corrupção do caixa dois. Nem uma coisa nem outra são um poema da moral. Mas são ações distintas. Não se deve nem matar nem varar o sinal vermelho. São interdições sem equivalência.

E foi a indistinção entre as transgressões a abrir a picada para muitos picaretas que andam por aí. Foi a indistinção a fazer tábula rasa da política e dos políticos e a levar o país ao risco de um segundo turno entre um petista e Jair Bolsonaro — se Lula puder ser candidato, vence. Mas isso já é assunto para outro post.

Qualquer que seja o presidente da República, o país estará mais seguro com Serra no Senado.

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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