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A trama asquerosa que envolveu a JBS resta cristalina. Nada aconteceu com Marcelo Miller. E aí, Dodge? E aí, Cármen?

Reinaldo Azevedo

16/02/2018 08h03

Marcelo Miller: há fortes evidências de que ele contou uma mentira à CPI

Novos dados que vieram a público eliminam qualquer dúvida sobre a dupla militância do então procurador Marcelo Miller: atuou, ao mesmo tempo, na Procuradoria Geral da República, como braço-direito de Rodrigo Janot, e como futuro integrante da banca de advogados do escritório Trench, Rossi e Watanabe, que chegou a fechar o acordo de leniência da JBS, retirando-se depois do caso. Em conversas com Esther Flesch, ex-sócia do escritório, o valente promete levar para a banca um grande cliente: justamente a JBS. Tais dados constam do telefone funcional de Flesch e foram juntados aos autos a pedido da PGR e por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo.

Nas mensagens, segundo informa o Painel da Folha, Miller trata o contato com os irmãos Joesley e Wesley Batista como um trunfo para negociar bônus mais vantajosos, por meio de Flesch, com o escritório. A conversa ocorre em fevereiro de 2017. Miller estava ainda na PGR. Os fatos que vêm à luz indicam que o doutor pode ter mentido à CPI, o que é, como se sabe, crime. Ninguém é obrigado a se incriminar quando convocado a depor. Mas nem na condição de depoente é permitido mentir. É por isso que se assegura ao dito-cujo o direito ao silêncio.

Miller, como sabemos, está no centro de um episódio que entrará para a história como um dos mais sórdidos da República. O país só não aprovou a reforma da Previdência por causa da patuscada de Janot, Joesley e Cia. Não fosse a urdidura que não hesito em classificar de criminosa, até a realidade eleitoral hoje desenhada, com vistas a 2018, seria outra. Porque outra seria a popularidade de um governo que, no que interessa, errou muito pouco. Os números estão aí para confirmar. Ou Michel Temer seria já um pré-candidato à reeleição ou já se teria definido um outro nome, que não hesitaria em falar em defesa da herança virtuosa que deixará o presidente.

Em vez disso, o que se tem pela frente é escuro, indefinição, insegurança, incerteza. As pesquisas revelam que as pessoas nem sabem exatamente por que são contra o governo. Reprovam, por exemplo, o que seria absurdo se soubessem sobre o que opinam, as políticas de juros e de combate à inflação, os dois sucessos mais óbvios do governo. Ocorre que Temer é ainda o sobrevivente de duas tentativas escancaradas de golpe.

Muito bem! A trama asquerosa que envolveu a JBS resta cristalina. Até agora, nada aconteceu com Marcelo Miller. A Procuradoria-Geral da República anda a passos de cágado nesse assunto. Cármen Lúcia, presidente do Supremo, exigiu, como se sabe, uma profunda investigação, e tudo ficou por isso mesmo.

Miller já não integra mais o Ministério Público Federal, mas é importante destacar que a instituição é que se meteu no buraco. Quando se trata, no entanto, de investigar as próprias falhas e os próprios crimes, os doutores da procuradoria preferem o corporativismo. Os brasileiros, em  particular os pobres, estariam vivendo dias mais felizes e certamente teriam um horizonte mais auspicioso se a tramoia da dupla J&J não tivesse sido urdida.

Ah, mas aqueles eram tempos, vocês se lembram?, em que criticar Janot e desmandos da Operação Lava Jato era considerado um crime. Eis o resultado.

Criminosos restam impunes, e o país, em vez de contemplar o futuro, vislumbra uma disputa em que pterodáctilos de várias extrações brigam pela primazia de acertar nossa cabeça com seu cocô reacionário, que tentam nos vender como se fossem ideias.

 

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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