Quanto mais se aproxima a eleição, mais cresce a instabilidade política promovida pelos cegos de tanta luz e pelos idiotas
Reinaldo Azevedo
06/04/2018 07h56
E o que se colhe nas redes sociais e também em setores relevantes da imprensa profissional é ainda mais sede de sangue. É espantoso que o apelo ao cumprimento da lei seja tomado como mero esforço em favor da impunidade. E isso vai tornando, claro!, mais ousados os novos empoderados. No despacho em que determina a prisão de Lula, antes que se esgotasse um recurso que o próprio presidente do TRF-4, Carlos Thompson Flores, admite existir, o juiz Sérgio Moro escreve: "Hipotéticos embargos de declaração de embargos de declaração constituem apenas uma patologia protelatória e que deveria ser eliminada do mundo jurídico". Ora, ele não está lindando com uma mera questão de gosto. Trata-se nada menos do arcabouço legal. A frase não deixa margem para interpretação alternativa. Quando o juiz acha que algo "deveria ser eliminado do mundo jurídico", ele trata esse algo como se não existisse.
Assim, há as leis, e há as leis com as quais Moro concorda. E este segundo grupo dita as suas escolhas. A elas ele submete os seus jurisdicionados, cassando-lhes o acesso àquelas das quais ele discorda.
Há uma sede meio estúpida de recomeçar o país do zero, como se isso fosse possível. Já não se quer mais a reforma das leis e o consequente combate à impunidade. Exige-se uma fogueira purificadora, a ser gerenciada pelos bons e pelos puros. Tudo o mais constante, acreditem, isso não dá em boa coisa. Todos os elementos estão dados para uma crise política de longa duração. Até agora, os cegos de tanta luz não tiveram tempo de enxergar contrastes e nuances. Os fanáticos ainda estão no comando.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.