Politização rasteira: chefão de sindicato que quer transferir Lula é um militante bolsonarista. Ou: A hora dos falastrões
Reinaldo Azevedo
12/04/2018 07h41
Trata-se de um troço sem fundamento. Até agora, não se conhece ameaça nenhuma à segurança de policias federais oriunda dos acampados. Não apoio esse tipo de pressão, mas não há nele ilegalidade nenhuma. Até onde se sabe, quem anda armado e tem condições plenas de se proteger são os agentes.
Pois bem. O Painel da Folha desta quinta informa que o presidente do sindicato, Algacir Mikalovski, é um militante bolsonarista. Há nas redes sociais uma foto sua de 2016 ao lado do deputado, comemorando a abertura da investigação contra Lula. Em 2014, foi candidato a deputado estadual pelo PRB. Não se elegeu. Em 2016, a vereador pelo PSDC. Não se elegeu de novo.
Esse tipo de comportamento empesta ainda mais um ambiente que já não é dos melhores. Na segunda, foi a vez de o delegado Milton Fornazari Júnior, que pertence à esfera de influências do PT, cobrar a prisão de Aécio Neves, Michel Temer e Geraldo Alckmin. Se um delegado atuasse nas redes sociais cobrando investigações — não estivessem elas em curso —, já seria impróprio. Mas não! Ele já se comporta como juiz de condenação e cobra logo de cara a prisão.
Embora esses eventos pareçam marginais e sem importância, a verdade é que eles adensam o caldo do que chamo desinstitucionalização do país. Agentes públicos perderam a noção de decoro. A prática de usar as redes sociais para ganhar adesões e criar ondas de opinião começou com a Lava Jato. Sua maior expressão é Deltan Dallagnol, secundado por Carlos Fernando. Ora, procuradores detêm um poder imenso. Assim como os delegados, eles mantêm a sua dimensão pública mesmo quando não estão dando expediente. Alegar que suas incitações e avaliações feitas nas redes é matéria afeta à liberdade de opinião e um escracho.
Ora, na maioria das vezes, aqueles que os leem entendem que estão emprestando àquilo que é uma mera opinião irresponsável o peso de sua expertise, de seu conhecimento profissional. Na prática, trata-se de um proselitismo que tem, queira-se ou não, a chancela estatal. E, como se sabe, até agora, nada aconteceu aos faltosos.
De resto, expressões bem mais robustas da Lava Jato, como o juiz Sérgio Moro, fazem a mesma coisa. Não basta que suas decisões prosperem; não basta que ele raramente tenha sido contraditado por tribunais superiores. Ele fala hoje como um paladino da Justiça. Por que os peixes menos graúdos não vão fazer o mesmo?
Esse ambiente persecutório, em que homens de Estado atuam como se fossem militantes, poderia, com efeito, estar a fazer um país melhor. Mas está acontecendo o contrário. As principais consultorias começam a rebaixar as suas perspectivas de crescimento para o país. Um tantinho da visão menos otimista se deve às maluquices de Donald Trump. Mas pouco. O que está contando mesmo é a incerteza política. A cada hora, o futuro se torna menos visível. Os candidatos que aparecem na dianteira estão entre o voluntarismo, o indeterminado e a estupidez.
E tudo se torna pior quando a bagunça já se mostra entranhada no seio do próprio establishment e dos Poderes constituídos, a exemplo do que se viu no Supremo nesta quarta. Segundo Roberto Barroso, o buliçoso ministro do STF, o país começa a separar o joio do trigo. É verdade! Está processando o joio, inclusive o produzido por Barroso, e jogando fora o trigo.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.