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Petrobras faz o que tem de fazer com o preço dos combustíveis, e tome indignação, que a imprensa veicula. Viva Dilma: quebrou a estatal

Reinaldo Azevedo

22/05/2018 16h50

Greve de caminhoneiros, uma gritaria infernal na imprensa, aquelas reportagens de TV que começam sempre com o testemunho de alguém indignado com o aumento do preço dos combustíveis… Até parece que existirá um consumidor que diga em entrevista: "É, a Petrobras está mesmo fazendo a coisa certa; afinal, o mais racional é fazer o preço dos combustíveis variar de acordo com a cotação internacional do petróleo, já que o óleo, afinal, é uma commodity e, como tal, sabe o jornalista, essa variação é, literalmente, o preço a pagar pela escolha mais racional no longo prazo"…

Que coisa, né? Especialistas em macroeconomia nunca estão ao lado da bomba. Só dá entrevista o indignado microeconômico.

É claro que apelo a alguma ironia para evidenciar um troço absurdo que está em curso. A Petrobras está fazendo o que lhe cabe fazer. Quem quebrou a estatal segurando preço de combustíveis foi Dilma Rousseff, que produziu um buraco na empresa de R$ 70 bilhões, maior do que qualquer roubalheira. Explica-se o desatino: qualquer reajuste do combustível incidiria numa inflação que já estava furando o teto da meta. A que temos está bem abaixo do centro, roçando na banda inferior dela. Logo, nesse particular, há espaço para arcar com o custo do reajuste.

Isso não quer dizer que as pessoas devam ficar satisfeitas. Mas, nessas horas, eu me pergunto: o papel da imprensa é simplesmente ficar colhendo depoimentos dos insatisfeitos com o preço do combustível, da batata ou do tomate? Quantas reportagens nós, da imprensa, fizemos com a população feliz com uma inflação de menos de 3%? "E quem disse que essa felicidade era visível, Reinaldo?" Pois é… Ocorre que, quando os preços estão comportados ou abaixo do esperado, não aparece para dar entrevista o oposto do indignado, que é o entusiasmado. Logo, é preciso ser mais parcimonioso ao veicular indignações.

Dilma levou a Petrobras à lona com a sua política de preços de combustíveis, e o seu Zé e a dona Maria não apareciam ao lado da bomba para lamentar: "Pois é, a gasolina esta barata, né? Isso esta quebrando a Petrobras".

A imprensa tem mais do que a obrigação de apenas reportar as opiniões. Ela não pode se dispensar de sua função didática. Sei que é difícil renunciar ao populismo na cobertura, mas é uma imposição moral.

Ou, então, vamos aplaudir Dilma! Esta, sim, teve a coragem de impor o preço dos combustíveis e de quebrar a Petrobras!

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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