Rejeição de mulheres a Bolsonaro sobe de 43% para 49%; entre mais pobres, de 41% para 46%; rejeitam-no 40% dos pardos e 51% dos negros
Reinaldo Azevedo
11/09/2018 09h03
O que foi mesmo que afirmei aqui, na manhã de ontem? Eu lembro:
"Bolsonaro, segundo os institutos, vem conseguido suas melhores marcas entre os universitários e os mais ricos. São segmentos importantes porque tendem a ser formadores de opinião, mas esses grupos não decidem uma eleição. Tudo vai depender de como os mais pobres vão registrar o episódio. Também vai pesar o comportamento das mulheres, grupo em que a rejeição a seu nome é alta. Se houver mudanças significativas nesses estratos, as chances de Bolsonaro crescem bastante."
Pois é… Quem ficou atento apenas à reação nos segmentos em que o candidato mantém seus melhores resultados acabou tendo uma impressão distorcida dos fatos. Segundo o Datafolha, a rejeição das mulheres a Bolsonaro cresceu de 43% para 49%. No eleitorado que tem apenas o ensino fundamental, oscilou para cima: de 37% para 39%. Entre os que ganham até dois salários mínimos, também houve crescimento: de 41% para 46%. Na faixa de 2 a 5, não votariam nele de jeito nenhum 42%. Eram 38% há três semanas. Ele também é o mais rejeitado por aqueles que se dizem pardos: 40%. Entre os que se identificam como negros, esse número chega a 46%. No Nordeste, o "não" ao candidato oscilou de 50% para 51%.
Por razões que os estrategistas de Bolsonaro deveriam trabalhar — se ele os tivesse —, a candidatura do deputado está sendo vista como hostil às mulheres, aos pobres, aos pardos e negros, aos nordestinos e aos de menor escolaridade. Em coerência com esses dados, ele se mantém estável entre os que ganham mais de 10 mínimos (de 33% para 31%), embora a rejeição tenha crescido de 35% para 43%. Lidera entre os homens, oscilando de 30% para 32%, embora 37% não votem nele de jeito nenhum. Tem a dianteira entre os universitários, variando de 27% para 30%, mas 48% nesse grupo também se recusam a lhe dar o voto.
Esses dados explicam por que se frustraram aqueles que esperavam que a facada desferida por um criminoso ou por um doidivanas poderia decidir o destino da Presidência da República. Como já afirmei aqui, Bolsonaro até pode se eleger, mas não será por causa daquele crime.
Houve ainda uma reação despropositada de seus militantes e de seus homens fortes. O presidente interino do partido, Gustavo Bebiano, chegou a anunciar: "Agora é guerra". O deputado Onyx Lorenzoni acusou uma conspiração do Foro de São Paulo. Ainda entorpecido, no leito da UTI do Albert Einstein, gravou-se um vídeo com o deputado. O senador Magno Malta exibiu a ferida da cirurgia, e o próprio Bolsonaro se deixou fotografar fazendo, mais uma vez, a mímica de uma arma. Eduardo Bolsonaro, seu filho, chegou a dizer, ninguém sabe com base em quê, que um tiro de revólver teria provocado menos danos a seu pai. Uma imagem que circula entre seus seguidores mostra Jesus tirando-o das águas com o texto: "Segure em minhas mãos, capitão… Ainda temos que salvar um país inteiro…"
Parece que parte considerável da população — na verdade, a maioria, especialmente entre os mais pobres — não cedeu a essa abordagem, mantendo a opinião que tinha sobre o candidato, embora certamente repudie a agressão.
Os bolsonaristas vão ter de voltar à prancheta.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.