DALLAGNOL 2: Ah, o rapaz admite só agora que Lava Jato pode ter pintado toda a classe política como corrupta e que isso não é bom...
Reinaldo Azevedo
04/10/2018 07h25
A quatro dias da eleição, dá a seguinte resposta quando indagado se a Lava Jato pode fazer com que o brasileiro vote melhor:
"A Lava Jato pode incentivar, sim, os brasileiros a buscar candidatos mais íntegros. Mas também pode ter o efeito contrário. De pintar a classe política inteira como corrupta — e, quando todos são corruptos, a integridade deixa de ser um critério de escolha. O importante é percebermos que cada brasileiro pode buscar pessoas mais íntegras."
Se eu tivesse nascido ontem, poderia exclamar: "Aleluia!" Mas agora é tarde, não? Bem antes de Dallagnol, no dia 17 de fevereiro do ano passado, afirmei em coluna na Folha: "Se todos são iguais, Lula é melhor". E, nas palavras do próprio procurador, a operação "pintou a classe política inteira como corrupta". E os efeitos são os que vemos. Se as pesquisas estiverem certas, podemos ter um segundo turno entre um candidato do PT — e Lula só não é o futuro presidente da República porque tirado do jogo pelo Poder Judiciário, não pelo povo — e Jair Bolsonaro, cujas credenciais democráticas, até agora, se limitam aos sete mandatos exercidos na Câmara. Só não se pode falar que foi discreto porque sempre foi bastante estridente. Nas demais declarações, não se nota especial apreço pela democracia.
E eis que Dallagnol se vê, no caso da eleição do petista, diante do malogro do projeto político da Lava-Jato — não me refiro às investigações fundamentadas — ou, no caso da eleição do capitão reformado, diante da expressão ainda mais virulenta operação, mas sem as âncoras que fixam, na forma ao menos, o Ministério Público Federal como parte da ordem democrática.
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Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.