Ministro da Educação evidencia alfabetização precária. Além das bobagens...
Reinaldo Azevedo
03/05/2019 17h05
"Há uma série de fakenews (sic) a meu respeito, algumas nas quais eu insitaria a violência. Tenho 47 anos, trabalho há 30, pago meus impostos, estou com minha esposa há 25 anos e temos 3 filhos. Não há casos de violência em minha vida ou passagens pela polícia."
Sim, o comandante da educação no Brasil escreveu "insitaria", com "s", em lugar de "incitaria". A mensagem é das 12h33. Deve ter sido alertado para esse erro ao menos. Corrigiu. Há outros índices de, como posso dizer?, incompatibilidade entre o ministro e a língua portuguesa, mesmo em mensagem tão curta. Ele vai ficar curioso, e eu normalmente deixaria a questão de lado. Mas é ministro da educação. O "algumas nas quais" é coisa de gente que levaria pau em redação do Enem. Ele quis dizer "segundo as quais". Falta uma vírgula depois de "25 anos" — mudança de sujeito requer a dita-cuja, mesmo antes do "e".
Agora vamos ao conteúdo.
Esse moralismo rastaquera que toma conta do país traz à luz bobagens como as que se leem acima.
Em primeiro lugar, pessoas violentas ou que incitam a violência podem ser um doce de coco na vida social e de aparências. Stálin gostava de criancinhas, ministro. E até indagava se haviam se curado de gripes e resfriados. Isso não quer dizer que não mandasse fuzilar os respectivos pais dos infantes. Referência: "A Corte do Czar Vermelho", de Simon Sebag Montefiore.
Ter começado a trabalhar cedo e pagar impostos é evidência de que a pessoa não incita a violência? Por quê?
Estar casado há 25 anos com a mesma mulher é índice de mansidão ou de caráter? O chefe de Weintraub teve três mulheres oficiais nesse período. Sempre lembrando, segundo resposta delicada dada a repórter da Folha — sim, uma mulher —, que usava o apartamento que tem em Brasília, embora recebesse auxílio-moradia, para "comer gente" nos períodos de solteirice. Como não consta que seja canibal, suponho que estivesse se referindo àquilo naquilo, certo? Eu avalio que Bolsonaro tem um discurso que incita a violência. Mas não porque mudou de mulher.
Se ser pai é uma condição contraditória com o incitamento à violência, não sê-lo seria uma condição compatível?
A família deve ficar fora dessa conversa. Até porque, se fosse para evocá-la, não parece que as famílias gostariam de ter as escolhas de Weintraub como exemplo. Ele move uma ação contra o próprio pai, já recorrendo em terceira instância. Tenta interditá-lo, alegando que não estaria no domínio pleno do juízo — perícia já atestou o contrário — em razão de disputa por herança.
O ministro que se dedique a políticas públicas, à leitura e a um bom livro de gramática. E que procure ser mais educado ao se relacionar com o público. Quanto às famílias, permita que cada uma e todas elas sejam felizes ou infelizes à sua maneira.
Ele não é exemplo de nada.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.