Olavo de Carvalho, condecorado por Bolsonaro com a Ordem de Rio Branco, no seu mais alto grau — Grã Cruz (e foi preciso fraudar o regulamento para isso) —, voltou a atacar Santos Cruz, no sábado. Chegou a chamá-lo de "bosta engomada". Mais: "Vocês acham que o Santos Cruz tem capacidade para ler e analisar uma só página da minha filosofia? O que ele tem, sim, é a capacidade de fofocar e difamar pelas costas". Outra: "Ocupando todas as vagas do governo, os milicos só provarão uma coisa: que antes disso eram uma tremenda mão-de-obra ociosa". Ao "Poder 360", Santos Cruz afirmou: "Não leio Olavo de Carvalho. Acho ele um desocupado esquizofrênico". Bolsonaro também não o lê porque nada lê. Mas o condecora porque, afinal, o autoproclamado filósofo é parte de seu aparato de propaganda.

Coloquem uma coisa no radar de uma vez por todas porque ela vai definir para onde vai o governo Bolsonaro e o tamanho do buraco em que vamos nos meter por um tempo — e este é inevitável: o projeto da dita "ala ideológica" é se ver livre dos generais que estão no governo e ameaçar o comando das Forças Armadas com uma ligação direta entre Bolsonaro e as patentes mais baixas do oficialato. Não acho que vá dar certo. Mas vêm solavancos por aí.

Sim, o general Augusto Heleno também está na mira. E não há nada que ele e seus colegas generais possam fazer para evitar o ataque. Ingênua, a cúpula militar chegou a imaginar — muito especialmente o general Villas Boas, ex-comandante do Exército — que Bolsonaro poderia ser um instrumento daquela ideia abstrata de ordem que, a seus olhos, havia sido corrompida em anos recentes. Só agora os militares que pensam se dão conta de que Bolsonaro é que os usa como instrumentos da desordem institucional de que ele se tornou beneficiário.

O homem que chama um general da reserva e ministro de "bosta engomada" e seus pares de um bando de desocupados é condecorado pelo presidente com a mais alta honraria do Estado brasileiro. Bolsonaro hoje manipula e humilha as Forças Armadas. Alguém se lembra de algo parecido em qualquer governo, incluindo os dos esquerdistas Lula e Dilma? Era isso o que tinham em mente as Forças Armadas quando decidiram apoiá-lo?