Quem lava sujeira da Lava Jato? Investigação como crime contra a democracia
Reinaldo Azevedo
10/06/2019 07h11
Não há como a Lava Jato limpar o Brasil porque sua água está contaminada, e o que nasce no solo por ela regado está envenenado. Desde os primeiros meses da operação, apontei seu desprezo pelo Estado de Direito; sua parceria indevida com setores da imprensa no vazamento seletivo de informações; a atuação com claro viés político de procuradores e do então juiz Sérgio Moro; a vocação para o espetáculo; a determinação de demonizar a política; a constituição do que me parecia, de maneira inequívoca, um projeto de poder, consubstanciado no que apelidei de "Papol" — Partido da Polícia —, integrado por membros do MPF, da Polícia Federal e do Judiciário. E, como não é segredo para ninguém, afirmei mais de uma vez que lava-jatismo estava na raiz da ascensão de Jair Bolsonaro como candidato viável. Eis aí o ex-juiz como ministro da Justiça daquele que não precisou concorrer com Lula porque o petista estava preso, já condenado em segunda instância.
A publicação deste domingo está dividida em quatro partes: uma introdução, na forma de editorial, e três reportagens. Já são devastadoras. E muito mais, tudo indica, está por vir. O site afirma ter recebido "mensagens privadas, gravações em áudio, vídeos, fotos, documentos judiciais e outros itens, enviados por uma fonte anônima", que revelam agressões organizadas e sistemáticas ao devido processo legal perpetradas pelo comando da Lava Jato — Deltan Dallagnol em particular — e pelo então juiz Sérgio Moro. Há o registro de dois anos de conversa: entre 2015 e 2017. Segundo o site, só o grupo de bate-papo intitulado "FT MPF Curitiba" soma conteúdo para um livro de 1.700 páginas.
Dado o desassombro que se percebe nas reportagens iniciais, é de se supor que vem coisa da pesada por aí.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.