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MORO E A MONTANHA 2: Mas o que queria Moro? Usurpar a competência do STF?

Reinaldo Azevedo

24/06/2019 07h25

Delegado Márcio Anselmo: Moro ficou bravo com ele porque policial seguiu a regra d o jogo (Foto: Geraldo Bubniak/Estadão)

A ratazana parida pela montanha que começa a ser explorada pela "Folha" e por "The Intercept Brasil" pode ser caracterizada.
1: nota-se a clara insatisfação de Moro com o fato de a PF ter anexado aos autos a tal da lista da Odebrecht, que trazia políticos com foro especial. Obviamente, há mais do que o simples temor de provocar a ira de Teori Zavascki. Sem essa divulgação, havia a possibilidade de que tais pessoas continuassem a ser investigadas de modo irregular pela força-tarefa — quando essa era uma competência da Procuradoria-Geral da República —, sob, literalmente, o comando de um juiz de primeira instância, quando tal atribuição era do Supremo;

2: Deltan se oferece para mobilizar a força-tarefa e o Conselho Nacional de Justiça e fala em antecipar uma denúncia — numa clara manipulação do andamento da investigação — para tentar diminuir os contratempos do juiz junto ao Supremo.

3: Se resta evidente que Moro conduzia a mão de Dallagnol, este, por sua vez, mobiliza um delegado da Polícia Federal para expressar a insatisfação do juiz com a decisão tomada pela PF. Há um dado que a muitos esta escapando: o que Moro chama de "tremenda bola nas costas" era apenas de um ato regular da Polícia Federal, que seguia o rito legal. Na conversa com o delegado, afirma Dallagnol na conversa com Márcio Anselmo:
"Creio que foi um erro, mas que atire a primeira pedra quem não errou ainda num caso cheio de pressões de tempo, de atividades e de mídia. Não se trata de procurar culpados ou julgar erros, mas de pensarmos como agir para não acontecer nada nos próximos momentos que possa complicar mais a situação que está delicada. O receio é que isso seja usado pelo STF contra a operação e contra o Moro. O momento é que ficou ruim… Pra ter ideia, já pedimos articulação da ANPR junto ao CNJ. Vem porrada".

Como se pode verificar, parece não haver distinção entre o juiz, o procurador que coordena oficialmente a Lava Jato e a Polícia Federal. Notem que, em sua fala, Dallagnol deixa clara a necessidade de uma ação concertada entre todos esses entes, o que viola de forma escancarada o Inciso IV do Artigo 254 do Código de Processo Penal e vários artigos do Código de Ética da Magistratura, em especial o 8º.

Nos diálogos revelados até agora fica claro que:
– Moro sugeriu a Deltan Dallagnol uma testemunha contra Lula;
– Moro assentiu com uma sugestão do procurador para criar uma situação artificial que pudesse levar tal testemunha a falar;
– Dallagnol revela a Moro que recorreu a um truque para poder vincular Lula a desvios de R$ 86 milhões no caso do tríplex;
– Dallagnol deixa claro a Moro que o material que conseguiu reunir contra Lula pode não sustentar a denúncia;
– Moro critica, em mensagem a Dallagnol, o trabalho da procuradora Laura Tessler, que havia participado pouco antes de uma audiência no processo do tríplex. O procurador passa a mensagem a seu colega Carlos Fernando. Os dois tratam da substituição da profissional. Quarenta e oito horas depois, ela estava fora do caso;
– Moro interfere até na ordem das fases da Lava Jato;
– e, agora, como ficou claro neste domingo, a dupla Moro-Dallagnol combinou uma reação para enfrentar o STF, assediou um delegado da Polícia Federal, mobilizou a PGR e procurou manipular, além do próprio Supremo, o Conselho Nacional de Justiça.

Para encerrar, uma pergunta: não fosse o tal "erro" do delegado Márcio Anselmo — que erro não era, mas apenas cumprimento da lei —, por quanto tempo políticos com foro especial seguiriam sendo investigados de forma irregular?

A montanha já deu à luz algumas ratazanas que atentam contra a democracia e o estado de direito sob o pretexto de combater a corrupção.

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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