MORO E O MBL 2: Veja outras implicações perniciosas de pedido de desculpa
Reinaldo Azevedo
24/06/2019 07h27
A memória de Moro, tão frágil em relação a ilegalidades praticadas em parceria com Dallagnol, revelou-se eficaz desta feita, embora insista no discurso do impossível.
A crítica de Moro ao MBL em 2016 não tem a menor importância, embora tenha mobilizado as redes. O que há de relevante no conjunto da obra é o fato de que, ao se desculpar com o movimento, ainda que de modo rebarbativo, ele admite a veracidade dos diálogos publicados. Ou bastaria dizer: "Alô, integrantes do MBL, isso que a "Folha" e o "The Intercept Brasil" publicaram é falso. Não posso me desculpar por aquilo que eu não disse". Creio, no entanto, que isso não seria o bastante para contentar o movimento — que é, sim, "morista" desde sempre.
Ao se desculpar, Moro chancela a veracidade dos diálogos publicados. E também expõe a sua fragilidade. Não pode perder o apoio daqueles a quem chamou um dia de "tontos". Estava, já disse, equivocado nesse particular. Mas sua dependência de agora decorre não de suas virtudes, mas da determinação com que agrediu a ordem legal. Se ele sobrevive como político, o sistema judicial caminha para o colapso.
OUTRAS BARBARIDADES
A fala traz outras barbaridades, como a insistência em que agiu com correção ao fazer a divulgação ilegal de grampo também ilegal.
Ele reitera que o inconveniente do protesto não estava em esculachar um ministro do Supremo em sua própria casa, mas no efeito contraproducente do ato. Entende-se que fosse útil à sua causa, tudo bem. Mais: "Teori era boa gente", diz. E se não fosse?
Mais ainda: ele é grato pelo apoio dado à Lava Jato… Que coisa! Não sei se sabem, mas Moro nunca foi membro da força-tarefa. Ele era o juiz. Ao se expressar desse modo, trai-se mais uma vez, falando em nome, então, daquele ente. O juiz, que, perdoem-me o pleonasmo, julga, expressa a sua gratidão em nome daqueles que investigam e acusam.
Eis aí… Em nome do combate à corrupção, os princípios mais elementares do estado de direito são aviltados, maculados, jogados na lata do lixo. Ainda hoje há alas do PT que asseguram que as lambanças nas quais o partido se meteu se deviam a um objetivo maior: desenvolver o país e combater as desigualdades.
Diga aí, leitor: o que você acha mais digno? Fraudar a lei em nome do combate à corrupção ou em nome da justiça social?
Não há futuro nem num pântano nem noutro. Só o monstro do autoritarismo e do atraso. Como estamos experimentando.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.