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Acordo Mercosul-UE: vitória do globalismo! Então Bolsonaro perdeu, é isso?

Reinaldo Azevedo

28/06/2019 17h22

Há a retórica e há os fatos. Na retórica, o governo brasileiro manda a Alemanha procurar a sua turma e ameaça sair do Acordo de Paris. No mundo dos fatos, o Mercosul — aquele que não era prioridade há oito meses, segundo Paulo Guedes — fecha acordo de quase livre comércio com a União Europeia.

Trata-se um passo importante? Sim. Não, não haverá um "liberou-geral" no comércio. Países europeus abrirão mais seus mercados — ampliarão as cotas — para produtos do Mercosul, sobretudo commodities agrícolas, com algum impacto também na indústria brasileira, e, tudo indica, estão de olho no setor de serviços no país.

Nas redes sociais, os bolsonaristas comemoram como uma grande vitória do seu líder. Bem, é dispensável dizer que essas negociações já duram… vinte anos. É uma construção que pertence a vários governos. A diplomacia se encarregou de manter acesa a chama do entendimento mesmo quando, atirando indiretamente contra a parceria acordoUE-Mercosul, Bolsonaro ameaçou deixar o Acordo de Paris. Emmanuel Macron bateu o martelo: sem Acordo de Paris, não tem entendimento entre os blocos. E o Brasil fica no Acordo de Paris. Ponto.

O Brasil teve um superávit de US$ 58,298 bilhões no ano passado. Desse total, apenas R$ 7 bilhões decorreram do comércio com países da União Europeia. Dos US$ 239,523 bilhões que o país exportou, apenas US$ 42 bilhões tiveram como destino países do bloco europeu (17,5%). Só para que se tenha um padrão de comparação: no mesmo ano, o superávit com a China foi de R$ 29,199 bilhões — 50,01% do total. Exportamos US$ 63,93 bilhões (26,69%) e importamos US$ 34,73 bilhões, o que corresponde a 19,16% dos US$ 181,225 bilhões do total de importações. Vejam: o Brasil importou da União Europeia US$ 35,5 bilhões, quase o mesmo valor que comprou dos chineses. A diferença está mesmo na exportação. O país asiático seguirá sendo, de longe, o principal parceiro do Brasil.

Vamos botar os EUA na equação? Exportamos para os norte-americanos U$ 28,696 bilhões — 12% do total — e importamos U$ 28,967 (16% do total), com déficit na balança de US$ 271,05 milhões. Não obstante, o discurso triunfante nesses seis meses era o de súditos de Donald Trump, que, em vez de abrir o seu mercado, quer fechá-lo.

Vale dizer: o acordo do Mercosul — aquele que não era prioridade de Guedes — com a União Europeia vai na contramão da tentativa de alinhamento automático do Brasil com os EUA. As projeções sobre o impacto na economia brasileira não passam, por enquanto, de chute. Até porque, pela lógica, em acordos assim, quem tem déficit pretende diminuí-lo em vez de aumentá-lo.

Em todo caso, perdeu o viés ideológico do bolsonarismo e ganhou, então, o viés ideológico do globalismo, certo? A satanizada União Europeia — que já foi criticada por Ernesto Araújo — celebra um acordo com o Mercosul, aquele que não era prioridade, na contramão do discurso oficial do Itamaraty.

É bom que Bolsonaro aplauda o acordo. Mas que fique claro: ele não tem nada com isso. O que se vê é a vitória do tal "globalismo".

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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