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A vaia no estádio, a democracia e as pessoas que estão fora do lugar

Reinaldo Azevedo

09/07/2019 02h53

Capa do livro "Viva Vaia", de Augusto de Campos. É bom ir aprendendo

"As vaias e os aplausos são direitos dos cidadãos com os quais ele convive dentro da normalidade democrática. Ele [Bolsonaro] reitera que continuará a despender o máximo das suas forças em benefício da condução do país e que está com a consciência tranquila".

As palavras são do porta-voz da Presidência, Rêgo Barros.

É verdade. Vaiar faz, literalmente, parte das regras do jogo.

Mas é mais chato quando o governante tenta tirar uma casquinha da disputa esportiva. O torcedor não gosta. Sente o cheiro do oportunismo. Foi o que o presidente tentou fazer com o jogo Brasil X Peru, na final da Copa América.

Bolsonaro foi convidado pela Conmebol para entregar as medalhas. Até aí, bem. Mas já havia entrado no campo na disputa contra a Argentina. Antes da final do Brasil contra o Peru, tentou associar a eventual vitória da Seleção Brasileira à sua gestão. O mesmo fez Sergio Moro, que o acompanhou ao estádio. Este, então, afirmou ser o jogo da Lava Jato em razão da investigação que há no Peru envolvendo o pagamento de propina a autoridades.

Houve também gritos de "mito" e aplausos. Mas em muito menor quantidade. Quando Bolsonaro saía de campo, depois da entrega da medalha, a vaia foi estrepitosa.

É um bom sinal, pouco importa o presidente. O campo não é lugar de fazer proselitismo político, ainda que oblíquo. E olhem que os ingressos da final custavam entre R$ 260 e R$ 800. Bolsonaro obtém seus maiores índices de aprovação entre os mais endinheirados. Segundo o mais recente Datafolha, 33% acham seu governo ótimo ou bom. Entre os que ganham mais de 10 mínimos, vai a 45%. Dada a renda brasileira, só por acidente se encontrava um pobre por lá. Mesmo assim, a vaia veio forte.

Como esquecer? Confortando o enrolado Sergio Moro, Bolsonaro o convidou para o estádio, afirmando que o povo diria quem está certo.

Se vaia ou aplauso definisse, então, quem está com a razão, o veredito teria sido contra o governo e seu presidente.

Mas, como já observei no programa "O É da Coisa", o estádio não prova nada. Lula levou uma vaia gigantesca no Pan em 2007 , e Dilma foi eleita com folga em 2010.

Estádio não é juiz. Se bem que, ultimamente, também essa frase deve ser posta em perspectiva, não é mesmo, Moro? O ministro, aliás, foi solenemente ignorado pela torcida. E olhem que eram pagantes que haviam desembolsado, no mínimo, R$ 260 para estar lá.

Se um dia o ingresso for vendido a R$ 2, Moro e Bolsonaro podem tentar um novo teste de popularidade…

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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