Os 27 senadores da Paraíba terão vergonha na cara e votarão contra Eduardo?
Reinaldo Azevedo
22/07/2019 06h21
Não! Eu não estou aqui a defender que os 27 senadores das nove "Paraíbas locais" que formam a grande "Paraíba Nacional", onde vivem pouco mais de 56 milhões de Brasileiros — 27% da população do país — votem contra a reforma para mostrar com quantos "nãos" se derruba um presidente. Mas, sim, estou aqui a cobrar que os nobres representantes dos Estados do Nordeste tenham vergonha na cara e honrem a população que os elegeu.
Como de hábito, Bolsonaro está a negar fatos indesmentíveis com aquela sua retórica torta e com a sua impressionante capacidade de dizer uma maçaroca de bobagens que não encontram nem a coerência do erro. Sim, isto é possível: há pessoas que dizem besteiras sistematizadas, que têm começo, meio e fim. Há tolices que são, por assim dizer, organizadas. As de Bolsonaro, vamos convir, nem essa qualidade apresentam porque ele não tem método nem para errar.
Negando, com uma cara-de-pau assombrosa, o que todos ouviram — chamou a Região Nordeste de "Paraíba", em tom depreciativo, e recomendou a um ministro seu que puna a população do Maranhão por meio da retaliação ao governador, Flávio Dino (PCdoB) —, insiste agora na falácia de que tudo não passa de distorção da imprensa, no que é, obviamente, estimulado por um dos filhos, o sempre inefável Carlos Bolsonaro. De quebra, esse grande pensador da política resolveu atacar Rêgo Barros, o porta-voz, que organiza os encontros com a imprensa.
Bolsonaro nega que tenha dito o que disse, mas, no sábado, jogando papo-furado às portas do Alvorada, em conversa com jornalistas, a que estavam presentes também alguns apoiadores, afirmou que os governadores do Nordeste, que tratou como derrotados nas eleições de 2018 — Não! Eles foram eleitos também! —, resolveram se unir contra o seu governo. Ou por outra: não dá o braço a torcer, não se desculpa, não se redime. E continuou no ataque. E voltou a criticar o governador do Maranhão. É um assombro.
Os governadores da região emitiram uma nota de protesto. O mesmo fizeram as Assembleias Legislativas dos nove Estados nordestinos. Obviamente, isso é pouco. Ao presidente, basta que uns gatos pingados o aplaudam à porta do Palácio e se digam nordestinos, a exemplo do que se viu neste domingo, e o resto está resolvido. Não, não está.
É preciso que "Paraíba" dê uma resposta mais efetiva ao agravo. Cumpre lembrar, e já escrevi aqui, que, com a ordem passada a Onyx Lorenzoni, Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade. E também incidiu na Lei 7.716, a que pune discriminação em razão de "raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". Crimes que permanecerão impunes.
Mas é necessário, no entanto, que se dê uma resposta política ao presidente. Antes que continue, noto: o senador Fernando Bezerra (MDB-PE) deveria renunciar à condição de líder do governo no Senado. Afinal, ele está entre os "paraíbas" de que Bolsonaro desdenha. É bom que saiba: é olhado com desprezo por aquele que chefia o governo de que é líder.
Votar contra a reforma da Previdência faria mal ao país, acho eu — pedindo vênia a quem pensa o contrário. Os 27 senadores de Paraíba têm o dever moral de dar um voto contra Bolsonaro, mas em favor do país. E como isso se realiza? Dizendo "não" à eventual indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Washington. Os senhores parlamentares darão uma resposta ao presidente, preservarão o Brasil do ridículo e evidenciarão que não se prestam à condição de capachos.
E isso tem de ser feito já. A votação, caso a indicação se faça, é secreta, o que não impede o parlamentar de declarar seu voto, a exemplo do que se viu na eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência da Casa.
Que a população de "Paraíba" passe a exigir de seus 27 representantes no Senado um voto com vergonha na cara.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.