Produtores de soja defendem meio ambiente e Código Florestal. Mas há erro
Reinaldo Azevedo
23/08/2019 07h04
Quem sabe ler nas entrelinhas reconhece que se fazem no texto advertências ao governo, ainda que por meio da informação.
Mas há, depois, a desnecessária puxação de saco — com a devida vênia —, que só afasta o governo do caminho correto.
De positivo, afirma o texto:
"A entidade é contrária ao desmatamento ilegal e a toda forma de supressão de vegetação nativa que não esteja legalmente autorizada pela Lei 12.651/2012, que instituiu o Código Florestal. O posicionamento está expresso na Carta de Palmas, documento elaborado em junho deste ano em que os sojicultores reafirmam a sustentabilidade da soja no cerrado brasileiro perante sociedade, governos e empresas do Brasil e do exterior"
Aplausos!
Mas se lê na conclusão:
"Em defesa de uma Nação forte e soberana, a Aprosoja Brasil apoia as medidas do governo federal que estão garantindo a preservação ambiental de nossa biodiversidade e ao mesmo tempo reconhece o esforço do Poder Executivo para fazer o país voltar a crescer e a oferecer oportunidades para os brasileiros que vivem no campo e na cidade."
A objetividade me obriga a perguntar à Aprosoja Brasil: a quais medidas, precisamente, o texto se refere?
De fato, não há legislação nova, no governo Bolsonaro, na área ambiental. Mas há o efetivo desmonte da estrutura de fiscalização. E com algumas provocações baratas que, sem trocadilho, podem custar muito caro.
A carta da Aprosoja é um alerta, sim! Mas não será com essa abordagem que o presidente vai recuperar a lucidez.
Quem compra aquilo que os filiados à Aprosoja produz está precisamente condenando o discurso doidivanas do governo brasileiro.
A fase dos salamaleques já passou. Chegou a hora de falar mais duro. Ou as sanções são certas com a luz do dia, antes de obscurecida pela fumaça.
Segue a íntegra do texto.
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A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e suas 16 associadas estaduais condenam a prática das queimadas criminosas que atingem regiões de vegetação e de produção agrícola na região norte do país. No entendimento da associação, os produtores rurais são as principais vítimas destes crimes na medida em que têm suas propriedades, lavouras e áreas de preservação, que estão sob sua responsabilidade, ameaçadas pelas chamas.
A Aprosoja Brasil considera importante ponderar, no entanto, que a ocorrência de incêndios florestais no bioma amazônico coincide com o período de estiagem na região, entre junho e agosto, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela Agência Nacional de Águas (ANA) coletados entre 1981 e 2011.
A entidade é contrária ao desmatamento ilegal e a toda forma de supressão de vegetação nativa que não esteja legalmente autorizada pela Lei 12.651/2012, que instituiu o Código Florestal. O posicionamento está expresso na Carta de Palmas, documento elaborado em junho deste ano em que os sojicultores reafirmam a sustentabilidade da soja no cerrado brasileiro perante sociedade, governos e empresas do Brasil e do exterior.
Democraticamente aprovado pelo Congresso Nacional, o Código Florestal é uma das mais rígidas legislações ambientais do mundo. Ele atribui ao proprietário de terras a responsabilidade pela preservação de áreas de reserva legal dentro das propriedades privadas, que variam de 20% a 80% dependendo do bioma, além de áreas de proteção permanente como nascentes de rios, margens e topos de morro.
Portanto, para o bem do debate sobre a sustentabilidade ambiental, econômica e social, é importante saber discernir entre o desmatamento ilegal e o desmatamento autorizado pelo Código Florestal para não criminalizar aquele empreendedor rural que faz investimentos, gera empregos e desenvolvimento obedecendo aos limites impostos pela legislação ambiental brasileira.
Graças a Código Florestal nenhum outro país produtor de alimentos preserva tanta vegetação nativa quanto o Brasil. Segundo dados levantados pela Embrapa Territorial e confirmados por imagens de satélite captadas pela Agência Espacial Norte Americana (NASA), dos 851,6 milhões de hectares que compõem o território nacional, 66,3% estão preservados, o que equivale a 564,8 milhões campos de futebol.
A produção de soja, principal cultura agrícola do país, ocupa apenas 4% da área total do país, o que equivale a 36 milhões de hectares. Dos 66,3% de vegetação nativa do país, 25% delas estão dentro de fazendas. Ou seja, o Brasil é um dos poucos países em que a preservação ambiental é uma responsabilidade compartilhada entre poder público e produtores rurais.
Ainda de acordo com dados da NASA, entre os dez países com maior extensão territorial, o Brasil é o sétimo em ocupação de áreas de lavouras (7,6%), ficando atrás da Índia (60,5%), Estados Unidos (18%), China (17,7%), Argentina (14%), Cazaquistão (9,6%) e Rússia (9,5%).
E entre os países que fazem parte do G-20, o Brasil é o terceiro que mais possui cobertura arbórea (61%), incluindo vegetação nativa e florestas plantadas, ficando atrás apenas da Indonésia (85%) e do Japão (71%), e à frente da Rússia (45%), dos Estados Unidos (29%) e de todos os países da Europa. O percentual de cobertura arbórea brasileiro supera em muito aos da Alemanha (35%), França (31%), Itália (31%), Espanha (22%) e Reino Unido (15%).
Além de a soja brasileira ser a mais ambientalmente sustentável do mundo, o grão também tem papel relevante na sustentabilidade econômica e social do país. A cadeia produtiva da soja movimenta US$ 70 bilhões/ano no Brasil. Para cada US$ 100,00 exportados, US$ 14,00 são oriundos da soja, que gera em torno de 15 milhões de empregos diretos, indiretos e induzidos.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 1991, 79% dos municípios rurais apresentavam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo e 20% deles muito baixo. Em 2018, 57% dos municípios rurais passaram a apresentar IDH alto e 38% deles IDH médio. Ou seja, onde tem soja, há melhora na qualidade de vida dos brasileiros.
A cadeia produtiva da soja é responsável por uma revolução alimentar que garante segurança nutricional para mais de sete bilhões de pessoas em todo o planeta. A partir da soja são produzidas carnes, leite, ovos, além de muitos produtos como cosméticos, tintas, biodiesel e até pneus.
A soja teve papel relevante na transformação do Brasil de país importador de alimentos para o maior exportador mundial, graças ao emprego da tecnologia e da harmonia entre produtores e meio ambiente.
Em defesa de uma Nação forte e soberana, a Aprosoja Brasil apoia as medidas do governo federal que estão garantindo a preservação ambiental de nossa biodiversidade e ao mesmo tempo reconhece o esforço do Poder Executivo para fazer o país voltar a crescer e a oferecer oportunidades para os brasileiros que vivem no campo e na cidade.
Aprosoja Brasil
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.