Números são explícitos: rejeição a Bolsonaro e governo dispara entre pobres
Reinaldo Azevedo
27/08/2019 07h11
Em fevereiro, 38,9% dos ouvidos achavam o governo ótimo ou bom; agora, apenas 29,4%; antes, só 19% diziam ser ele ruim ou péssimo, agora, 39,5%. Vale dizer: a aprovação caiu 9,5 pontos, e a reprovação cresceu 20,5. O saldo positivo de 19,9 se transformou num negativo de 10,1. O regular se manteve estável: 29% conta 29,1%. Caiu de 13% para apenas 2% os que dizem não saber. O que isso significa? O ruim/péssimo não só atraiu quem antes achava ótimo/bom como quem ainda não tinha opinião formada. Dito de outro modo: a estarem certos os números, o governo Bolsonaro não ganhou ninguém, viu migrar os indecisos para a rejeição e ainda perdeu parte considerável do que tinha.
Quando se avaliam os cortes de escolaridade e renda, acende-se o sinal vermelho. O amarelo já havia acendido em fevereiro. Na comparação com antecessores em primeiro mandato, os números já eram os piores.
Entre os que estudaram até o quinto ano, 47,3% acham a gestão ruim ou péssima, contra apenas 22,1% que dizem ser ótima ou boa. Esse placar é de 42% a 23,5% entre os que cumpriram da 6ª à 9ª serie e de 35,7% a 33,4% entre os que fizeram o segundo grau. Ainda que na margem de erro, o número da reprovação é também maior entre os universitários, um bolsão de resistência do governo: 37,4% a 34,3%. Segundo dados do TSE de 2018, São 38.063.892 os eleitores que declararam ter ensino fundamental incompleto. Outros 33.676.853 afirmaram ter concluído o ensino médio. Só 13.576.117 disseram ter curso superior.
Quando se leva em conta a renda, os números também fazem uma advertência severa ao governo. 46,9% dos que ganham até dois mínimos consideram-no ruim ou péssimo; só 21,9% nessa faixa dizem ser ótimo ou bom. De dois a cinco salários mínimos, há empate técnico: 33,3% reprovam contra 33,1% que aprovam. A inversão se dá entre os que recebem acima de cinco mínimos: 43,8% de ótimo/bom contra 32,6% de ruim/péssimo.
Pois é… O rendimento real médio dos salários em 2017, segundo o IBGE, foi de R$ 2.039. O dos homens vai a R$ 2.261; o das mulheres, fica em R$ 1.743. O dos brancos era de R$ 2.615; o dos negros, de R$ 1.516.
REPROVAÇÃO PESSOAL
A reprovação ao desempenho pessoal do presidente também disparou de forma alarmante. Ele era aprovado por 57,5% dos entrevistados em fevereiro; agora, por apenas 41%; a reprovação quase dobrou no período: de 28,2% para 53,7%; caiu de 14,3% para 5,3% os que dizem não saber. Também nesse caso, Bolsonaro não ganhou ninguém, viu a maioria dos neutros migar para a rejeição e perdeu parte considerável do que havia conquistado no começo do mandato.
Também aqui os mais pobres e menos escolarizados, que acabam constituindo a maior faixa do eleitorado, são os mais duros. Entre os que estudaram até o 5º ano, a reprovação ganha por 57,3% a 33,1%; do 6º ao 9º ano, por 59,4% a 35,4%; entre os que fizeram o segundo grau, 50% a 46%. Só na minoria universitária a aprovação ainda supera a reprovação: 52,8% a 43,3%¨. Na faixa que recebe até dois mínimos, a rejeição ao desempenho pessoal de Bolsonaro vai às alturas: 61,3% a 33,2%, ficando em 48% a 46,3% entre os que recebem de 2 a 5. Acima de 5, a aprovação ainda supere a desaprovação: 50,7% a 45,1%.
De fato, as medidas do governo ainda não tiveram impacto na vida dos mais pobres. Mas se nota também que esse é um governo que tem dificuldade de falar com eles. Bolsonaro deveria estar preocupado. Em vez disso, está vituperando contra o mundo por causa da Amazônia e contra a imprensa simplesmente porque esta existe. É um mau caminho.
Sobre o autor
Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.
Sobre o blog
O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.