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Celso de Mello reage: “O atrevimento do presidente parece não ter limites”

Reinaldo Azevedo

29/10/2019 07h18

Celso de Mello, decano do Supremo: dura reação à postagem delinquente em Twitter do presidente, que foi apagada depois (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)

A baixaria publicada no Twitter do presidente deixou perplexos os ministros do Supremo. E Celso de Mello, o decano da Casa, foi porta-voz da insatisfação, manifestando-se com dureza rara. Afirmou em conversa com a Folha que o "atrevimento do presidente parece não ter limites".

E acrescentou:
"Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de 'gravitas' e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de Poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República".

"Gravitas", em latim, quer dizer, originalmente, peso. Por associação de ideias, significa "dignidade", "seriedade", "apego à honra". Leiam no pé do post a íntegra da nota enviada pelo decano à Folha.

PASSOU DOS LIMITES
Dias Toffoli, até por ser chefe de um Poder, é um dos interlocutores de Bolsonaro. O ministro tem atuado para tentar, vamos dizer, aparar as arestas na relação entre o presidente da República e a Corte. Diatribes e agressões que aparecem em nome do presidente nas redes sociais são atribuídas ao destempero do filho.

Mas os ministros já começam a se perguntar o óbvio: até onde Bolsonaro é, de fato, surpreendido pelas malcriações de Carlos e até onde se está diante de um jogo combinado? Afinal, se o presidente não quer ser atropelado por publicações que não são do seu agrado, por que Carlos continua a ser o dono das senhas das contas do pai nas redes sociais?

Os ministros do Supremo já se cansaram de ser saco de pancada do bolsonarismo. Convenham: até agora, o presidente não disse de própria voz e com todas as letras que ele, como chefe do Executivo, não tem de se meter em coisas como CPI da Lava Toga ou julgamentos em curso na Corte.

Ou por outra: o presidente parece ter a ilusão de que pode ser, a um só tempo, o beneficiário dos cachorros loucos das redes sociais e da contenção institucional levada a efeito pelo Supremo, mas que excita as fúrias hidrófobas.

Segue a íntegra da nota de Celso de Mello:
A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor Presidente da República em sua conta pessoal no "Twitter", torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma "hiena" culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.

Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de "gravitas" e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.

É imperioso que o Senhor Presidente da República —que não é um "monarca presidencial", como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados— saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.

 

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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