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Bolsonaro contra a pena triplicada por crimes contra a honra: por que será?

Reinaldo Azevedo

16/12/2019 07h43

Leiam esta fala de Bolsonaro sobre a disposição de vetar parte do pacote anticrime que triplica a pena para crimes contra a honra cometidos na Intenet:
"Vou vetar aquele artigo que fala em triplicar a pena para crimes na internet de injúria, calúnia e difamação. Internet é território livre. Eu quero liberdade de imprensa. Ninguém mais do que eu sou atacado na internet. Não é por isso que vou achar que tem que criminalizar. Liberdade na internet. Quem sempre quis bloquear a internet de vocês, sabem que foi né? Aquele cara de nove dedos queria o controle social da mídia".

Há uma confusão aí que só seduz nefelibatas e idiotas. A imprensa profissional nada tem a ver com os crimes de calúnia, injúria e difamação. Pode até abrigá-los excepcionalmente, dando voz a atores políticos. Mas não é coisa, com raras exceções, de jornalistas.

Bolsonaro e o bolsonarismo querem confundir a pistolagem que campeia nas redes sociais e em páginas que praticam um troço que até imita jornalismo — tanto quanto se pode confundir um bugalho com alho — com o trabalho de profissionais da informação.

Como? Bolsonaro a falar como paladino da imprensa livre? Só pode ser brincadeira, não é?

É aquele presidente que vetou a Folha numa licitação pública para compra de jornais para órgãos do Estado? Voltou atrás porque se tratava de crime de improbidade e de responsabilidade. É o cara que ameaçou até anunciantes privados do jornal? É chefe de Estado que resolveu suspender a publicação de editais púbicos e de balanços de empresas privadas em jornais com o intuito declarado de lhes tirar receita? É aquele que comanda um governo que premia com publicidade oficial empresas alinhadas com o poder?

De fato, o PT fez um discurso confuso e autoritário sobre a imprensa. Não foi além da fala porque percebeu que não encontraria guarida no Congresso. Deram em nada as tentativas de criar o Conselho Federal de Jornalismo. Recentemente, Lula desceu a língua na imprensa em evento na USP. Ninguém é obrigado a falar bem. Nem Bolsonaro. O que não pode é usar o poder oficial para agraciar os alinhados e punir os desafetos.

Quanto a triplicar as penas para calúnia, injúria e difamação cometidos na rede, bem, não cairei na cilada de confundir a pistolagem que anda por aí com jornalismo.

Bolsonaro vai vetar? Eis outra matéria candidata à derrubada do veto.

Referir-se a Lula como "aquele cara de nove dedos" está à altura do orador. Bolsonaro já disse mais de uma vez ser contra o que ele chama de "linguagem politicamente correta". E ser indecente é um dos seus modos de ser incorreto. É moralmente indigno para um indivíduo. É eticamente inaceitável para um presidente da República.

PARA ENCERRAR
Repararam? Quando se faz uma CPI das Fake News, o bolsonarismo grita: "Ah, isso é contra nós". Ao se pensar em triplicar as penas na Internet por calúnia, injúria e difamação, a mesma coisa: "Ah, isso é contra nós".

Proponho que se tente fazer uma CPI das Milícias.

Vamos ver qual será a reação.

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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