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Reinaldo Azevedo

Vistos os números no detalhe, o massacre da esquerda é bem menor do que se alardeia, mas os vitoriosos não têm tempo para ver isso agora

Reinaldo Azevedo

08/10/2018 07h44

Haddad e Ciro somados têm 41,75% dos votos. Vista a conta por esse ângulo, nota-se que o desempenho da esquerda está muito longe do tal massacre que se alardeia por aí. Faço essa observação para que os leitores deste blog não se surpreendam, depois, com eventuais dificuldades que venha a sofrer o futuro presidente — no Congresso ou fora dele. Não entendeu? Eu explico: se o eleito for Bolsonaro, é bom que ele saiba que parte considerável do país não cedeu à sua agenda. Se for Fernando Haddad, o eleitorado que resistiu a isso que chamam "guinada conservadora" há de cobrar do mandatário que resista, então, à pressão.

Os dois candidatos fizeram pronunciamento logo depois do resultado. O petista falou claramente que pretende buscar o que chamou de "forças democráticas", fazendo um aceno para o centro político. Bolsonaro preferiu uma transmissão na Internet, ladeado pelo economista Paulo Guedes, que nada falou. Fez uma pregação contra a divisão dos brasileiros, que, segundo ele, é estimulada pelas esquerdas e, infelizmente, uma vez mais, pôs em dúvida as urnas eletrônicas — não fossem elas, deu a entender que já seria o vitorioso. Logo, mais uma vez, ele evidencia que só admite um resultado: a vitória.

É claro que aquele que sai, por razões que dispensa explicação, como o franco favorito para vencer o segundo turno não deveria fazer esse tipo de declaração. Antes mesmo do segundo turno, ele e sua grei já têm muito a comemorar. Mas parece que o deputado não está disposto, não por enquanto ao menos, a dar uma colher de chá à institucionalidade. Ele deveria olhar para o tamanho do feito até agora e, ao menos, investir na pacificação dos espíritos.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.