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Reinaldo Azevedo

GOLPE, SIM! 1: Ordem do Dia militar “rememora” 1964 e violenta a história

Reinaldo Azevedo

29/03/2019 08h15

Tanques do Exército no Rio no dia 2 de abril de 1964. É muito fácil você saber se foi uma revolução ou um golpe. Quem conduzia os taques? Eram "os do povo" ou soldados pagos pelo Estado brasileiro? Se eram os soldados e se a Constituição foi rasgada, então foi um golpe. Questão de fato, não de vontade

Vamos lá. A "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964", assinada pelo ministro da Defesa e pelos três comandantes militares, faz má história, mas não "comemora" o golpe — em sentido festivo —, conforme havia determinado o presidente Jair Bolsonaro. O verbo "comemorar" foi empregado pelo seu porta-voz, general Rego Barros, que é militar da ativa. Desta vez, a emenda saiu melhor do que o soneto, mas o resultado continua ruim. O esforço para buscar, vamos dizer, a neutralidade é visível no texto. E se deve relevar, claro!, a iniciativa algo conciliatória, dado o espírito de revanche que marca a iniciativa do presidente da República. Contou a habilidade de Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa. Assim como os defensores da Terra Plana e do criacionismo, no entanto, a negação do óbvio tem de passar, necessariamente, pelo duplo twist carpado argumentativo, que consiste em dar uma pirueta sobre a realidade. A nota tem um tom sóbrio, mas não escapa da mistificação.

De resto, é fácil saber se foi revolução ou golpe. Quem pagava o salário de quem conduzia os tanques? Era o Estado Brasileiro? Então foi golpe.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.