A economia nem inviabilizará nem salvará Bolsonaro. O que fará a diferença?
Não será a economia a inviabilizar o governo de Jair Bolsonaro. Mas, por enquanto, não será ela também a salvá-lo. Não é essa área que tira o sono do presidente. O que o atormenta é a retomada da investigação das lambanças havidas no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio, em parceria com o sumido Fabrício Queiroz.De fato, desconheço partido ou grupo organizado que faça a aposta no caos econômico. O Brasil vai se adaptando a uma rotina de baixo crescimento, e os mais pobres vão se virando como podem, sem se sentir estimulados a partir para confrontos à moda chilena, o que certamente frustra a extrema-direita.
Também não há força política relevante, felizmente, que aposte em aventuras disruptivas — não, ao menos, entre os que fazem oposição ao presidente. Por enquanto, os únicos que sonham com alguma coisa parecida com golpe são aliados seus.
A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no domingo, com dados colhidos nos dias 5 e 6, aponta que a avaliação sobre o governo parou de se deteriorar, o que coincide com uma discretíssima melhora na economia. Se a lenta retomada do crescimento não for interrompida, bastará para que o governo não caia de podre. Mas, por óbvio, nada sugere um quadro de otimismo. Os números são eloquentes.
Consideravam o governo ótimo ou bom em abril 32% dos entrevistados. Em agosto, o índice havia caído para 29%. Agora, está em 30%. O ruim/péssimo havia batido em 38% em agosto; neste dezembro, oscila dois pontos para baixo: 36%; há oito meses, era de 32%. Também são 32% os que dizem agora ser regular o governo — mesmo número de abril. A coisa poderia ser resumida assim: melhorou porque parou de piorar.
Em relação a agosto, os brasileiros estão um pouquinho mais otimistas com a economia do país, mas brutalmente mais pessimistas do que há um ano, antes de o presidente tomar posse. Em dezembro do ano passado, diziam que o país iria melhorar 65% dos entrevistados; agora, apenas 43% — uma queda de 22 pontos. Chegou a cair para 40% em agosto. Há um ano, 9% afirmavam que iria piorar: neste dezembro, são 24% — há quatro meses, 26%. Há 12 meses, 24% achavam que tudo ficaria na mesma. Esse número se mantém.
O governo Bolsonaro bate o recorde de avaliação negativa em seu primeiro ano: empata tecnicamente com Collor, mas está numericamente à frente: 34% a 36% de ruim/péssimo. Para comparar: as respectivas primeiras gestões de FHC e Lula encerram o primeiro ano com 15% de rejeição; a de Dilma, com apenas 6%.
No fim das contas, os números parecem tendentes a convergir, de novo, para o cenário dos três terços: num dos extremos, o apoio de sempre; no outro, a rejeição de sempre, e há parcela de possíveis pragmáticos, que preferem esperar os ganhos concretos ou os danos concretos antes de se posicionar.
Uma coisa é certa: a avaliação da esmagadora maioria da população está muito longe do otimismo dos tais "mercados". Estes, parcela ínfima daquele terço do ótimo/bom, enxergam virtudes na administração que dois terços da população ainda não viram.
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