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BOLSONARO E OLAVO 3: O erro do ex-astrólogo; e eu era, claro!, um dos alvos

Reinaldo Azevedo

22/04/2019 22h51

Acima, a prova da vidência do ex-astrólogo. Errou todas. Essa é a sua maior credencial como guru. Convenham: acontece sempre. Tolo é quem pega pelas antevisões

Ainda reproduzindo, supõe-se, a voz do presidente, afirmou Rego Barros sobre Olavo de Carvalho:
"Ele teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao país".

As palavras são o meu país. Sem que se defina o que se entende por "conservadorismo", afirmar que um conservador combate o "anacronismo" — que é aquilo que está fora do tempo e que perdeu a virtude de servir como instrumento para analisar o presente — é uma contradição em termos. Como? O homem que se coloca como a grande barreira contra a expansão do comunismo teria sido um remédio contra o anacronismo? Ora, resta evidente que "comunista", para Olavo de Carvalho, é só uma palavra-símbolo do insulto, que serve para designar os que dele discordam. São comunistas ou seus lacaios, segundo diz, parte considerável do empresariado, da imprensa, dos líderes mundiais e dos financistas — o pior seria o bilionário judeu George Soros. Faltava acusar os militares de integrar a conspiração. Não falta mais. Carvalho errou todas. Segundo vociferava nas redes, o impeachment de Dilma não aconteceria porque os movimentos de rua teriam se articulado com forças do Congresso. Já então ele defendia uma tal "intervenção popular", que haveria de ser feita por… militares. Era o tempo em que olavistas e bolsonaristas ficavam isolados nas manifestações, a defender uma intervenção militar. Eram o baixo clero do impeachment. A importância de Olavo foi absolutamente marginal no que se deu no país. Sua presença se robusteceu depois, fornecendo a faceta paranoica da campanha de Bolsonaro e que, por óbvio, não serve para governar. Ou alguém tem alguma dúvida?

Faça um teste, general Rego Barros. Leve Olavo para comer um pastel no Mercadão Municipal de São Paulo. Vamos ver quantos, entre os eleitores de Bolsonaro que eventualmente transitarem por ali, reconhecerão o ex-astrólogo e ex-islamista.

Certa feita, o Facebook, o notável pensador criticou assim o movimento pró-impeachment, como se vê acima:
"Eis aqui a prova de que o impeachment, amputado de todo combate anticomunista, foi criado para defender a classe política apenas. Não o Brasil. Kims Katakokinhos e Janaínas Paschoais jamais compreenderão a quem serviram. Mas o Reinaldo Azevedo compreende — e gosta,"

Eu, claro, pertenceria a uma conspiração para desviar o povo de seus propósitos. Notem ali? Os outros seriam inocentes úteis. Eu, claro!, de inocente não teria nada e compreenderia o jogo que só ele enxergava.

Agora, os conspiradores passaram a ser os militares.

E assim ele vai mudando os alvos. Especulo que o que regula seus humores e seus alvos seja o número de "alunos" que aceitam pagar para ouvi-lo.

Nada saiu como ele imaginou. Afinal, Olavo não tinha, porque nunca teve, razão. Agora, ele pretende usar Bolsonaro como o instrumento de sua "intervenção popular". Como os militares não caem na conversa, ele se enfurece.

Não serei eu a negar que a esquerda seja anacrônica. Mas será isso moderno, general Rego Barros?

Ah, sim: críticos e alvos de Olavo se juntaram depois em arranjos táticos ou estratégicos. Chamem como quiser. Não foi obviamente o meu caso. E nunca será.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.


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