Há semelhanças, no que diz respeito a possível trato com o Congresso entre as falas de Boulos e de Marina: ele não é do establishment; ela, sim!
Eu opero com critérios objetivos na análise política. E sou transparente na exposição deles. É claro que Guilherme Boulos (PSOL) afirma algo parecido — aliás, ele o fez na entrevista que me concedeu no programa "O É da Coisa". Saída para quem não tem Congresso? Plebiscitos e referendos. Mas também precisam do Congresso. Bem, entendi que, nesse caso, seria preciso mobilizar o povo. Qual a diferença de, como direi?, legitimidade discursiva entre Boulos e Marina?
Ele é candidato de um partido de extrema-esquerda. Duvido que lide, intimamente — ele é formado em psicanálise lacaniana —, com a possibilidade de vencer a disputa. A literatura política de esquerda me autoriza a afirmar que ele está na fase de construção de uma liderança, em que, vá lá, a pureza ideológica tem um valor muitas vezes superior ao pragmatismo. Foi assim que se construiu um certo Lula. Demorou até que chegasse à política de alianças de 2002. Os tempos e meios da política são outros, mas equilíbrio — ou desequilíbrio — entre pureza e eficiência ainda obedece às mesmas leis.
Boulos não pertence ao establishment político. Sob nenhuma perspectiva, é um justificador do statu quo. E eu jamais votaria nele justamente por isso. Porque, ainda hoje — e vai mudar se realmente quiser crescer no ramo —, traz consigo a ideia das ações disruptivas: em vez de reforma, ele quer ruptura, ainda que não seja a revolução. Mas e Marina?
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