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Reinaldo Azevedo

4- FOSSE EU BOLSONARO, FARIA O SEGUINTE: mitigaria o politicamente incorreto, usaria PT como fantasma e tentaria atrair centro-direita

Reinaldo Azevedo

16/09/2018 05h09

Jair Bolsonaro: bom senso indica que é hora de baixar a tensão . E a questão do espantalho

ATENÇÃO, LEITOR! ESTE TEXTO PRECISA SER LIDO COLOCANDO-SE NA POSIÇÃO DO CANDIDATO EM QUESTÃO. NÃO É UM JUÍZO DE VALOR DO AUTOR.

O impacto eleitoral da agressão sofrida pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL) não foi tão grande como esperavam seus colaboradores mais próximos e seus fieis nas redes sociais, mas é bem maior do que se pode perceber à primeira vista. Se for eleito, já escrevi e já disse, não será por causa da facada. Mas o grave incidente terá tido um papel importante, sim.

Por quê? Por dois motivos principais:
1: seus adversários suspenderam os ataques mais duros porque não convém bater em quem está numa cama de hospital, com a saúde bastante debilitada. O ferimento no abdômen não mudou o que ele tem na cabeça, mas obriga seus adversários a amansar as críticas.

2: Bolsonaro ganhou a chamada "mídia espontânea". O noticiário sobre a investigação do crime acaba, por óbvio, sendo positivo à sua imagem.

No Datafolha, em três semanas, foi de 22% (22 de agosto) para 26% na pesquisa divulgada na sexta. Embora a eleição de 2014 recomende prudência ao se cantarem vitórias e derrotas, é inequívoco que o candidato tem uma trajetória de alta. Há três semanas, era derrotado por praticamente todos os principais adversários — a exceção era Fernando Haddad, com quem estava em empate técnico. Agora, só perderia, com certeza, para Ciro Gomes (PDT). Empata tecnicamente com os demais.

Se eu estivesse no lugar de Bolsonaro, ou de seus estrategistas, concluiria ser hora de amansar o discurso. Como eu e os bolsonaristas não combinamos muito nos dons do pensamento, como diria Camões, é possível que considerem que estou estupidamente errado e que façam o contrário — com o que tenderei a ficar satisfeito. Não sei se fui claro… Notem: não estou dizendo que podem fazer o oposto com o objetivo de me contrariar. Trato aqui de diferenças de perspectiva. Mas voltemos ao ponto.

"Amansar o discurso por quê?" Porque seu eleitorado parece bastante consolidado. Poucas pessoas apostariam hoje que não estará no segundo turno. A lógica indica que, nas três semanas que restam, seria o caso de ganhar o eleitor ressabiado com a agressividade da campanha. Seus militantes na Internet não são exatamente exemplos de tolerância. O mundo, para esses entusiasmados, se divide entre os eleitores do mito e os comunistas, capachos do Foro de São Paulo.

Os dados sobre rejeição deveriam servir como um sinal de alerta. Mesmo com a exposição do candidato muitas vezes multiplicada na grande imprensa, mesmo com a sua condição óbvia de vítima de uma agressão, o número dos que dizem não votar nele tem viés de alta: antes do ataque, estava em 39%; no dia 10, depois do evento, saltou para 43% e ficou em 44% na sexta.

Pessoas ligadas à sua campanha espalharam nas redes um vídeo em que ele interage, num show, com um gay que transita entre o mundo do humor trash e da semicelebridade. Ele pega o rapaz do colo, leva vários beijos no rosto e ouve um depoimento. A personagem assevera que Bolsonaro não é homofóbico. Só é contra aqueles livrinhos…

Ocorre que essa estratégia, que me parece acertada, não é consenso. Os bravos de sua linha de frente querem é que continue a pregação contra a chamada "ideologia de gênero", a pregação da linha dura contra os bandidos, o combate ferrenho às esquerdas. Assim ele chegou aos 22%; a facada o levou aos 26%, com potencial para crescer em razão da tal mídia espontânea. Mas também consolidou a sua rejeição num patamar elevado.

A lógica impõe ainda, e os bolsonaristas devem fazê-lo, que se use o PT como o bicho-papão da eleição. Se o partido despontar como segundo colocado, o "capitão" será oferecido como o Santo Guerreiro que pode barrar o Dragão da Maldade. E, por óbvio, será uma escolha tecnicamente correta. Eleitores radicalmente antipetistas distribuídos por outras candidaturas podem escolher Bolsonaro já no primeiro turno como depositário de seu antipetismo.

No post texto em que escrevi o que faria se fosse Alckmin, notei que há 9% dos votos com candidatos antipetistas: Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), com 3% cada um. Defendi que o tucano deve buscar atraí-los, mas a sua, digamos, "estratégia do medo" tem de se dar na forma de um alerta sobre o risco, para o país, que representa uma luta entre extremos: de um lado, Bolsonaro; de outro, os petistas. A "pegada" do capitão, nesse caso, teria de ser outra: ele seria a garantia contra o PT. Para lembrar: os petistas também preferem um embate final contra o candidato do PSL. Nesse caso, os duelistas convergem na divergência — ou divergem na convergência.

Em suma, se eu fosse Bolsonaro, amansaria o discurso no terreno dos costumes e da pregação politicamente incorreta e passaria a usar o PT como espantalho. Sua turma certamente fará a segunda coisa. Já a outra não conta com a concordância dos fanáticos. Eles gostam é do "Bolsonaro raiz". Não tem esse papo de ser meio Nutella…

Para ler "Se eu fosse Alckmin", clique aqui

Para ler "Se eu fosse Haddad", clique aqui

Para ler "Se eu fosse Ciro", clique aqui

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.