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Reinaldo Azevedo

DEMITAM O SALLES 2: Ministro do Meio Ambiente usa, sem pudor, mortos e desaparecidos para o proselitismo ideológico vulgar, o que é intolerável

Reinaldo Azevedo

28/01/2019 16h53

Francis, de 34 anos, era bombeiro hidráulico terceirizado na Vale e deixa uma filha de 4 anos. Foto pessoal.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, parece não ter ouvido a orientação do chefe — sobre não ser hora de achar culpados. Ou, então, o chefe mudou de ideia. Numa prova explícita de despreparo para o cargo, ou de má-fé previamente combinada com quem manda dele, Salles já está por aí a atribuir o desastre, ora vejam, ao PT. Sim, o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, se deu sob o governo de Fernando Pimentel. Este, agora, nos primeiros dias de janeiro, já ocorre na gestão de Romeu Zema. O que um e outro poderiam fazer contra o desastre? A estrutura estatal para fiscalização de barragens é ridícula. Na prática, são as próprias empresas que se encarregam da segurança. A aprovação do rito sumário para a Vale aumentar sua produção na área se deu na gestão Pimentel, mas ele não está em curso. O que ficou claro naquela reunião foi, sim, a falta de cuidado com que a questão ambiental é tratada no país.

O senhor Salles aproveita a tragédia para fazer proselitismo ideológico. Afirma, por exemplo:
"Quando a esquerda vem com o discurso de descuido ambiental (da direita), eu não admito porque o que aconteceu em Brumadinho é consequência da visão deles".

"Deles" quem? O que há de "esquerdista" na legislação que o "direitista" Salles consertaria?

Ele tenta responder:
"Precisamos de objetividade e centralidade para fazer com que as coisas aconteçam de maneira efetiva. (Hoje), recursos humanos que deveriam estar focados nas questões de médio e alto risco estão sendo dispersos (em questões menores). Precisamos de legislação que funcione, licenciamento que funcione".

Sabem o que isso quer dizer? Nada! Ele nem tem ideia sobre o que está falando, e daí decorre essa maçaroca de abstrações como "objetividade", "centralidade", "questões de médio e alto risco".

A verdade é que o atual governo chegou ao poder — e só por isto Salles foi nomeado —, partindo do pressuposto de que as questões ambientais atrapalham o desenvolvimento. Ele é o grande arauto do autolicenciamento. "Ah, mas isso é só para as questões envolvendo matas…" É mesmo? Por que não para a mineração? A rigor, o controle das barragens é feito pelas próprias mineradoras. Até porque há maios de 24 mil barragens no país, 790 delas de rejeitos minerais, e apenas 154 funcionários para vistoriar tudo.

Salles deveria ser demitido por exploração política de um desastre ambiental e humanitário.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.