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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro não deu cargo a Mourão, mas é ele o verdadeiro chanceler brasileiro, já que há um deserto mental no Itamaraty

Reinaldo Azevedo

26/02/2019 04h23

O presidente Jair Bolsonaro decidiu, de maneira delirada, não dar cargo nenhum a Hamilton Mourão (foto). Ainda bem! Assim ele pode se assumir uma função relevante: a de chanceler, a de titular, ainda que não oficial, do Itamaraty, já que a cadeira de ministro das Relações Exteriores está ocupada por um deserto mental chamado Ernesto Araújo. A atuação deste senhor no caso da crise da Venezuela foi, para dizer pouco, desprezível.

A verdade é que a operação do sábado, nestes tempos de redes sociais em que se prometem revoluções na velocidade da comunicação digital, foi um fiasco. Os milhões não compareceram à fronteira. Como escrevi aqui, cometeu-se o erro de promover um cerco ao país, o que empurrou os militares venezuelanos para uma posição defensiva.

A reunião dos países que compõem o grupo de Lima, ocorrida em Bogotá, nesta segunda, restabelece a racionalidade. O ditador Nicolás Maduro tem de ser pressionado pela via diplomática. Inexiste alternativa militar. Nas palavras de Mourão: "Para nós, a opção militar nunca foi uma opção. O Brasil sempre apoiou soluções pacíficas para qualquer problema que ocorra nos países vizinhos".

Conforme também se escreveu aqui, o general Mourão deixou claro que, sob nenhuma hipótese, o governo permitiria que o território brasileiro fosse usado como base para uma ação militar — liderada pelos EUA — contra a Venezuela. E não custa lembrar: seja para declarar guerra a um país, seja para permitir a passagem de tropas em solo nacional, é preciso haver a aprovação do Congresso.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.