MILITARES 3: O erro de condução anula efeito político dos “sacrifícios”
Há um erro de condução no conjunto da obra que só a inexperiência política poderia produzir de forma tão evidente. Comecemos do começo: a reforma dos militares não deveria tramitar junto com a outra. Michel Temer tentou ensinar essa lição. Onyx Lorenzoni chamou a sua reforma de "porcaria" — depois que Jair Bolsonaro já estava eleito. E o então pré-candidato à Presidência gravou um vídeo ao lado de Flávio, seu filho hoje senador, esculhambando Temer e gritando: "Seja homem!"…
Mas as circunstâncias — o fato de o presidente ser militar reformado e ter lotado o governo de generais — fizeram com que fosse imperioso fazer tudo rolar ao mesmo tempo. Sendo assim, aí não faz sentido lançar junto um plano de reestruturação da carreira, o que, como se sabe, não foi oferecido aos demais servidores. Notem: se fôssemos ficar apenas nos cortes de benefícios previdenciários, poder-se ia falar numa economia de R$ 93,7 bilhões em dez anos no caso dos militares. Ou 9,37% do que Guedes quer economizar. Considerando que a categoria responde por 15,37% do rombo, digamos que parece um pouco mais justo. Mas aí resolveram meter a reestruturação da carreira no balaio de gatos pardos.
As coisas se complicaram. Ela resultará num aumento de despesas correntes, no período, de R$ 86,65 bilhões. Subtraído esse dinheiro da economia, o saldo é de R$ 10,4 bilhões. Ocorre que aposentadoria e reestruturação de carreira são coisas distintas. Mas se misturaram, tudo indica, para tornar palatáveis as principais mudanças previdenciárias para os militares, a saber:
– salto de 30 para 35 anos no tempo trabalhado para passar para a reserva;
– elevação da alíquota de contribuição de 7,5% para 8,5% em 2020, 9,5% em 2021 e 10,5% a partir de 2022 (os reservistas também contribuem);
– taxação de 10,5% nas pensões recebidas por familiares.
E é com esses números que o governo deveria estar lidando. Mas aí vem a paixão pelo erro.
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