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Reinaldo Azevedo

CATARSE 1: Mourão fala o que Fiesp quer ouvir, mas a reforma cai do telhado

Reinaldo Azevedo

27/03/2019 05h36

Hamilton Mourão, vice-presidente da República, esteve em São Paulo nesta terça. Falou a empresários na Fiesp e depois participou de um jantar com um grupo seleto, na casa de Paulo Skaf, presidente da entidade. Não que uma coisa esteja subordinada a outra — são apenas eventos contemporâneos —, mas o fato é que, enquanto o presidente da República se embananava em Brasília, e a reforma de Paulo Guedes era jogada de cima do telhado, Mourão dizia em São Paulo o que os empresários queriam ouvir. Encarnava, vamos dizer, a vertente liberal do governo — ao menos no que diz respeito à economia —, já que o titular da Presidência é a representação do reacionarismo a um só tempo acanhado e agressivo. Reage sempre como um bicho que estivesse ferido e acantonado. Quem se aproximar, ainda que seja para ajudar, corre o risco de levar uma mordida. O vice falou, e as almas se excitaram um pouco, pacificando-se, ao menos até as primeiras horas desta quarta-feira. Deixem-me fazer uma pausa para uma pequena reflexão.

Todos experimentamos uma espécie de conforto psicológico quando gurus, intelectuais, artistas, pessoas famosas, líderes religiosos ou autoridades falam aquilo que pensamos, especialmente se esse pensamento está de algum modo entranhado, pouco claro para nós mesmos. Melhor ainda quando temos certa percepção da realidade ou cultivamos uma determinada opinião que não é lá muito influente — ou que tem pouca aceitação social —, e então vem essa "personalidade" e a vocaliza, externando o que trazíamos guardado. O efeito é similar ao da catarse. Há uma espécie de liberação. Então dizemos: "É isso!" A eleição de Jair Bolsonaro, note-se, passou por esses caminhos. Anos de pregação à esquerda criaram certo caldo de ressentimento em largas parcelas da população, que se sentiam sufocadas. Se aquilo que guardavam era bom ou mau, bem, esses são outros quinhentos. Nem é matéria destes posts. Todos sabem o que penso a respeito. Com frequência, não eram bons sentimentos nem boas percepções. Mas deixo isso pra lá agora. O que importa é essa espécie de desabafo coletivo.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.