Nossos privatistas: boquinhas dos Bolsonaros e Feliciano, o “Boca de Ouro”
Como todos sabemos, Jair Bolsonaro e seus filhos descobriram que não gostam do Estado. Ah, não! Seriam ultraliberais convictos. Eduardo, que será embaixador do Brasil em Washington se a vergonha na cara do Senado for hipossuficiente, estuda "Escola Austríaca de Economia", curso de mestrado lato sensu oferecido pelo Instituto Mises Brasil. Ao inflar seu currículo de fritador de hambúrguer, diga-se, deu como concluído o dito-cujo, o que foi desmentido pelo instituto. O deputado Marco Feliciano, por sua vez, do Podemos-SP, é um fiel escudeiro do bolsonarismo. É outro que se reinventou como inimigo do Estado-babá. Sem essa de dar o peixe. Com Feliciano, tem é de aprender usar a vara. Afinal, pertence à legenda comandada pelo senador Álvaro Dias (PR), que chega a deixar a própria moral corada de inveja.
Pois é… Dados que vêm a público nos dizem, de maneira inequívoca, que tanto os Bolsonaros como Feliciano, o pastor sem máculas, não gostam de Estado para os outros. Quando se trata do próprio bem-estar, o Estado brasileiro lhes é uma verdadeira vaca leiteira. Bolsonaro pai e os três filhos fizeram de seus respectivos mandatos uma verdadeira agência de empregos para parentes e agregados. Isso na hipótese de que essas pessoas realmente tenham recebido o salário. Boa parte nunca deu as caras no local de trabalho.
Já o ínclito Feliciano foi ressarcido pela Câmara em escandalosos R$ 157 mil por, pasmem!, um tratamento dentário. Quem olha a clínica por fora não consegue imaginar como se fazem procedimentos tão caros do lado de dentro.
Ao longo da trajetória de Bolsonaro e filhos como parlamentares, foram nomeadas 286 pessoas — desse total, 102 têm relações de parentesco. E uma boa quantidade é parente dos… Bolsonaros! E, como não poderia deixar de ser, só Fabrício Queiroz empregou sete parentes desde 2006. Até a semana passada, a lista incluía seis pessoas, mas agora apareceu mais uma: Angela Melo Fernandes Cerqueira, ex-cunhada de Queiroz.
Como informa, o Globo, "a família do presidente teve 22 integrantes nomeados nos quatro gabinetes ao longo de quase três décadas. Um dos primeiros parentes que Bolsonaro nomeou foi seu primeiro sogro, João Garcia Braga, o seu Jó. Ele é pai de Rogéria Nantes Braga, mãe dos três filhos mais velhos do presidente. Braga constou como seu assessor entre fevereiro e novembro de 1991. Depois da Câmara dos Deputados, ele foi nomeado pelo neto Flávio na Alerj, onde permaneceu de 2003 a 2007. Do total de 286 funcionários, 40 transitaram entre mais de um gabinete. O salário bruto médio real de Braga foi de R$ 9,7 mil. Químico aposentado, Braga nunca teve crachá de identificação funcional da Alerj e mora em Resende, no Sul fluminense, pelo menos desde o fim dos anos 1960."
Informa ainda o Globo:
"Quando Bolsonaro separou-se de Rogéria e passou a viver com Ana Cristina Siqueira Valle, em 1998, os pais dela também se tornaram assessores dele na Câmara. Junto vieram diversos outros parentes dela, tanto no gabinete do presidente como nos de seus filhos Carlos e Flávio. Devido à investigação do MP-RJ sobre a suposta prática de "rachadinha", tiveram os sigilos fiscal e bancário quebrados com autorização judicial dez parentes de Ana Cristina, além de Braga e Léo Índio, sobrinho do presidente, que foi funcionário na Alerj entre 2006 e 2012."
Como se nota, Bolsonaro muda de casamento, e quem paga a conta é o contribuinte.
No dia 19 do mês passado, em café da manhã com correspondentes estrangeiros, afirmou o pensador que ocupa a cadeia de presidente da República:
"Adotou-se do governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) pra cá, PSDB e depois o PT, (a ideia de) que distribuição de riqueza é criar bolsa. É o país das bolsas. O que faz tirar o homem da miséria, ou a mulher, é o conhecimento."
Quando se é parente de um Bolsonaro, e o caso Eduardo o revela, dispensa-se o conhecimento. Basta o parentesco.
As relações especiais chegam ao presidente. Informa o jornal:
"Outro policial militar de confiança do presidente, o atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Antonio Francisco de Oliveira, também teve familiares empregados nos gabinetes dos Bolsonaro. Foram três — pai, mãe e tia — em períodos distintos entre 2001 e 2015.
Tia do ministro, Márcia Salgado de Oliveira apareceu nos registros da Alerj como funcionária de Flávio de 2003 até fevereiro deste ano. Em 2014, porém, num processo que tramitou no Juizado Especial da Comarca de Mesquita, na Baixada Fluminense, quando acionou uma empresa de telefonia, Márcia apresentou uma procuração escrita de próprio punho, na qual informou que sua ocupação era "do lar". Além disso, em 16 anos, ela jamais teve crachá emitido pela Alerj, procedimento que a Casa sempre recomendou a todos os seus funcionários."
Indagada pela reportagem, Márcia disse que nunca trabalhou para a Alerj: "Não, meu amor, você ligou para a pessoa errada".
É com esses moralistas que se está construindo a nova moral. Não há perigo de isso dar certo.
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