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Reinaldo Azevedo

Democracia: Maia acerta ao repudiar fala de Heleno, que tem de ir à Câmara

Reinaldo Azevedo

04/11/2019 22h32

Rodrigo Maia, presidente da Câmara: deputado vai ao "é da coisa". Democracia não supõe golpes (Reprodução)

Como é mesmo aquela frase. Os mais fracos lambem mel; os corajosos mordem a abelha. Sim, eu sei, as palavras não são bem essas, mas faço um blog "family-friendly", rsss.

General Augusto Heleno, chefe do GSI, resolveu me atacar no Twitter, num óbvio esforço de intimidação da imprensa — mais um. Ficou bravo porque defendi, num post publicado no dia 1º, que seja convocado a dar explicações no Congresso por ter flertado — E FLERTOU! — com a pregação golpista do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Para este, defendo cassação. Ao general, a chance de se explicar. Ou, então, uma denúncia por crime de responsabilidade, segundo dispõe a Lei 1.079.

Heleno resolveu me atacar no Twitter. Respondi e escrevi um post. Ele voltou à carga. Reagi de novo. Numa evidência de que está fazendo uma baita confusão de conceitos, disse ser um combatente contra o "getulismo, o peronismo e o azevedismo", entre outros "ismos". Fiquei com a impressão de que a resposta nem errada consegue ser. Inexiste "azevedismo". Houvesse, seu livro de referência seria a Constituição.

Hoje, mesmo os oficiais da ativa querem distância de Heleno. Em vez de o poder torná-lo mais moderado, houve o efeito contrário: ele tem contribuído para piorar alguns aspectos que já são ruins na retórica do presidente Jair Bolsonaro. Em vez de ser um elemento em favor da contenção e do comedimento, tornou-se referência de radicalismo.

Não custa lembrar: o general cometeu o despropósito de discursar em cima do palanque no último ato de protesto organizado pela extrema-direita. Sim, falou num evento em que boa parte dos presentes defendia CPI da Lava Toga — promovendo o choque entre Poderes — e, nos caso dos mais radicais, o fechamento do tribunal. O tal ato tinha ainda como alvos os presidentes da Câmara e do Senado: Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente.

Os dois ataques que o general desferiu contra mim no Twitter evidenciam que ele está numa espécie de guerra santa. Não é alguém que empreste, sei lá, seu pensamento estratégico ao presidente da República, convidando este à prudência. Não! Está fazendo o contrário.

Ao flertar com o AI-5, aproveitou para, de quebra, atacar o Congresso. Ora, é esse o homem que vai cuidar da segurança institucional? Referiu-se ainda a uma corrente de oposição como se fosse algo a ser exorcizado do país. Faltam-lhe cabeça fria, ponderação, capacidade de diálogo.

Adicionalmente, noto que, na resposta que deu a mim, tentou falar também em nome das Forças Armadas, o que é falso como nota de R$ 3. Ao contrário: a maioria dos oficiais-generais das três Forças avalia que ele está falhando gravemente na missão de diminuir as tensões no país.

RECUOU DIANTE DE MAIA
Pois bem… Atacar jornalista virou moda neste governo. Os mais ousados já se dedicam até a criar armadilhas para poder atacar aqueles que considera seus inimigos. Mas há a hora em que é preciso enfiar a viola — e o golpismo — no saco.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi impecável. Referindo-se ao flerte de Heleno com o AI-5, afirmou:
"Acho que a frase dele foi grave. Além disso, ainda fez críticas ao Parlamento, como se o Parlamento fosse um problema para o Brasil. É uma cabeça ideológica. Infelizmente, o general Heleno, o ministro Heleno, virou um auxiliar do radicalismo do Olavo. Uma pena que um general da qualidade dele tenha caminhado nesta linha."

Pois é…

Desta feita, o general preferiu o silêncio, no que fez muito bem. Soou quase como poesia. Convidado a morder a abelha e responder ao presidente da Câmara, ele preferiu recuar: "Nada a declarar. Não tenho nada a comentar. Não vou falar, pô!"

Foi aconselhado — e, desta vez, fez a coisa certa — a silenciar.

CONVOCAÇÃO
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) protocolou um pedido para ouvir o general. Espero que seja aceito e que o ministro tenha a chance de se explicar de tranquilizar o país. É o seu papel. Para isso temos alguém que responde pela Segurança Institucional. Não para tentar intimidar jornalistas.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.